Em sua melhor exibição em mata-mata de Copa/Euro da era Del Bosque, Espanha conquista tri-europeu e ratifica poderio do grupo, que vem ao Brasil em 2014 assustando os rivais
Victor Mendes
Duque de Caxias/RJCréditos das imagens: El País
*Originalmente postado em Quatro Tiempos - Futebol Espanhol.
Pode parecer exagero, mas o título que encabeça esse texto tem tudo a
ver com o futebol da Espanha. Bastante criticada durante toda a
Eurocopa, taxada de pragmática, chata e sonolenta até mesmo pela
imprensa espanhola, a Fúria deixava no ar uma interrogação: seria capaz
de vencer e convencer? Pois bem, o tri-campeonato europeu, o segundo
consecutivo (algo inédito na história da competição), serviu para jogar
todas as argumentações anti-Espanha por ladeira abaixo. A Roja venceu,
convenceu e foi campeã. Em sua melhor exibição em terras ucranianas, a
equipe treinada por Vicente Del Bosque deu um enorme passo rumo à
galeria dos maiores do esporte. Os 4x0 ante a Itália, tetra-campeã
mundial, representa muito bem o poderio absurdo desse grupo.
Em campo, Del Bosque repetiu a mesma escalação que usou contra a mesma Itália na estreia na Eurocopa.
Um onze inicial que, semanas atrás, criou dúvidas quanto ao estilo de
jogo espanhol e gerou críticas ao treinador. Porém, o campeão mundial e
agora europeu deu andamento ao que faltava: a ousadia. Se é para
comparar, como a imprensa espanhola tanto gosta de fazer, a Espanha da
final lembrou aquela avassaladora que conquistou a Eurocopa em Viena há
quatro anos. Foi incisiva, utilizou bastante seus pontas, com destaque
para a grande partida de David Silva, viu em Fàbregas um falso nove de
excelente nível e, sobretudo, teve em Xavi seu principal articulador.
O dono da camisa oito foi outro nome que decepcionava na competição. Como o blog já previa,
o fato de Del Bosque adiantá-lo para um setor do meio-campo onde não
estava acostumado a jogar foi um dos principais fatores para seu mau
futebol no torneio. Além disso, o cansaço de uma temporada para lá de
cansativa com o Barcelona e o surgimento de novos problemas físicos limitaram Xavi, que não mostrou nem 80% de seu futebol até a semifinal. Ele mesmo admitiu
antes da bola rolar que se sentia um pouco decepcionado com suas
exibições. "Gostaria de poder ajudar mais", disse. Na coletiva pré-jogo,
porém, os múltiplos elogios de Del Bosque, que mostrou confiança no
cérebro da equipe, valeram para seu futebol aparecer. Xavi tomou conta
do meio-campo, assistiu Alba e Fernando Torres, cadenciou o jogo e, além
disso, tomou conta de Pirlo durante os 90 minutos.
Os grandes trunfos da Roja para parar a Azzurra foram congestionar o
meio-campo para evitar a superioridade numérica do losango italiano,
alternar Xavi e Fàbregas no cerco a Pirlo e combinar retenção de bola e
verticalidade, arriscando mais o passe longo e as ultrapassagens,
utilizando bastante das infiltrações, algo que tanto faltava nessa
equipe. Tanto
que não houve o habitual controle da posse de bola (apenas 53% na
primeira etapa e 57% no total), com mais erros de passe e equilíbrio nas
conclusões enquanto houve disputa. Os acertos compensaram. A
objetividade ficou em primeiro plano. Como bem disse André Rocha, a
fantástica atuação não isenta e até enfatiza as críticas ao futebol
apresentado nas fases
anteriores. Uma verdade. De acordo com Cesare Prandelli, treinador da
Itália, a Azurra sentiu problemas
físicos, por falta de descanso - vide Chiellini, que chegou lesionado à
Euro e se machucou outras duas vezes durante o torneio.
Um título que acrescenta ao currículo respeitável de Vicente Del Bosque a
única competição que lhe faltava. Como treinador, o madrilenho pode ser
orgulhar de ter conquistado Champions League, Copa do Mundo e Eurocopa,
uma trinca desejável por qualquer técnico do planeta. Além disso, pelo
Real Madrid, Del Bosque conquistou duas Ligas Espanholas e um Mundial de
Clubes. Um título que mostra, de vez, ao mundo o talento de Jordi Alba.
O melhor lateral esquerdo da competição abusou do bom futebol e
mostrou-se sócio perfeito de Iniesta no setor esquerdo. A dupla, agora,
irá se encontrar mais vezes em campo, visto que Alba retornou ao
Barcelona. Mais um motivo para temer o time azulgrená e tentar achar
mais motivos para pará-lo.
Mas quem merece um parágrafo à parte nessa conquista é justamente
Iniesta. Após passar por uma temporada irregular onde as lesões
novamente voltaram a atazaná-lo, o meio-campista brilhou. Eleito pela
Uefa o MVP da Eurocopa - com justiça, diga-se de passagem -, Iniesta foi
o ponto de equilíbrio da Fúria e voltou a ratificar sua importância
para a seleção. "O homem mais querido por toda a Espanha"se destacou em
todas as partidas da Roja no torneio, sem exceção. É um merecido prêmio a
um jogador extremamente profissional, avesso às câmeras, humilde, que
só pensa no trabalho. "Não jogo para ganhar Bola de Ouro, e sim para
ganhar títulos com meu país e meu clube", afirmou na zona mista. Mas
você merece, Don Andrés Iniesta.
Nenhum comentário:
Seja bem vindo ao Leitura Esportiva. Seu comentário é bastante importante para nós!
Comentários anônimos não serão mais aceitos.