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O futebol folclórico vai virar lenda

De paixão nacional vivida à flor da pele, o futebol passou a ser um poço de frescuras e corre sério risco de perder sua essência.

(por Henrique Ventura)

Memorável briga em campo de Edilson com Paulo Nunes, em 1999: Faísca folclórica dentro de campo, incorporando as cores das camisas; corporativismo boleiro fora dele, sem confundir com apologia à violência. (Imagem: Djalma Vassao - via Lance!Net)

O futebol é tratado como esporte número um dos brasileiros. Não só por causa da sua existência em si, mas pelo que ele representa no cotidiano do País e pela sua capacidade em interferir na relação entre as pessoas. Mas tudo isso parece ruir aos poucos, bem como a presença do público nos estádios.
E não precisamos ir tão longe para ilustrar a situação. Há pouco mais de uma década, tínhamos em plena atividade Túlio Maravilha, Paulo Nunes, Romário, Viola, Donizete, Marcelinho Carioca, Vampeta, Edmundo, Renato Gaúcho, Edilson, Mirandinha, dentre outros presentes em uma gama considerável de jogadores folclóricos. Por onde passavam, mostravam identificação com as cores e, de quebra, provocavam adversários; sem, é claro, deixar de mostrar suas qualidades com a redonda.

Gol de calcanhar de Túlio Maravilha, pela Taça Libertadores da América, provocando os chilenos - (Imagens: canal bftgames, no Youtube)

Há duas décadas, narradores tinham jargões inesquecíveis e davam a dose certa de suspense e emoção às partidas. O envolvimento da voz de Januário de Oliveira, a irreverência de Sílvio Luiz e até mesmo a emoção de Galvão Bueno no auge de sua carreira traziam o torcedor ao esporte. Até 2003 existiam, nos estádios, as “Gerais”, onde o povão se concentrava e víamos gente de tudo quanto é jeito, do quase magnata ao pobrezinho que até dava um jeito de ir fantasiado (!!!) a campo. Clássicos reuniam amigos, que bebiam em seguida para comemorar ou para esquecer o resultado, sempre mantendo as gozações saudáveis. Artilheiros comemoravam com vontade, sangue nos olhos, vibravam na mesma sintonia da torcida.

Silvio Luiz e Galvão Bueno. O primeiro sempre esbanjou irreverência e criou jargões "grudentos", como "Olho no Lance" e "Pelas barbas do profeta...". O segundo, por muito tempo, deu grande emoção a partidas decisivas. (Imagem: Site Oficial do Silvio Luiz)

E hoje? Boleiros comemoram gols com “dancinhas” tolas, atletas que reclamam da arbitragem são suspensos, mascotes são rigorosamente podados. Fez gol? Pode comemorar, mas não pode – palavras da International Board – exagerar na comemoração. Cacilda, se o gol é o orgasmo do futebol, por que diabos não se pode extravasar para comemorá-lo? E esse “afrescalhamento” do futebol não fica só dentro de campo. O preço dos ingressos está cada vez mais abusivo, a ponto de muitos times cobrarem quase cem reais por um jogo, camisas oficiais custarem um terço de salário mínimo. Se o futebol é o esporte nacional, ou o povo está ficando bem rico, ou os dirigentes estão abusando da ganância explorando a paixão nacional.

Loco Abreu, no jogo Figueirense x Flamengo, provoca a torcida rubro-negra beijando o escudo do Botafogo que sempre carrega em sua "segunda pele". Uruguaio foi denunciado pelo STJD e pode levar suspensão por esta atitude. (Imagem: Portal R7)

Começa a ser criada uma geração que só vai ao estádio se as condições forem as mais próximas possíveis do sofá da sala, uma geração sorvedora de pay-per-view. As brincadeiras do escritório no dia seguinte ou até mesmo a cervejinha após os clássicos foram substituídas por montagens e “print screen” nas redes sociais. O quadro é preocupante e precisa ser amenizado o quanto antes, enquanto ainda há representantes que vivenciaram o futebol folclórico. Se é que há alguém importante realmente sensibilizado com isso.
Há duas semanas, Loco Abreu foi denunciado pelo STJD por beijar o escudo do Botafogo, como provocação à torcida do Flamengo. Nessa semana, Neymar ironizou as vaias e tomou amarelo. Isso só reforça que provavelmente, em um hipotético "teletransporte" ao futebol atual, Dadá Maravilha seria ridicularizado por suas frases, Romário seria considerado um nanico superestimado, Túlio seria execrado por seu gol de calcanhar com gol aberto, Dener seria mais um molequinho marrento que só cisca e jamais veríamos um Maracanã ou uma Fonte Nova transbordando gente.

Henrique L. B. Ventura
São José dos Pinhais/PR
no twitter: @henventura

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