Lewis Hamilton começou a perder o campeonato de 2007 da Fórmula 1 após inacreditável abandono no GP da China
Por Leandro Gomes
Rio de Janeiro/RJ
Lewis Hamilton lamenta abandono no GP da China. Foto: Vavel.com |
Não há dúvidas que Lewis Hamilton é um piloto
sensacional. Conhecido por ser muito rápido e dono de um estilo bem agressivo,
é um dos melhores do grid atual da Fórmula 1. No entanto, uma coisa não se pode
negar: erra demais por muitas vezes não ter um mínimo de cautela. Foi
exatamente assim que jogou um título pela janela justo no seu ano de estreia,
algo que tratou de começar a fazer em uma prova disputada na China.
Em 2007, Hamilton era a sensação da categoria. O inglês
não sentiu a pressão da estreia e brilhou durante o campeonato. Além de ter
superado o difícil momento da McLaren, que era acusada de espionagem, também
suportou o duelo psicológico contra seu companheiro Fernando Alonso, que não se
cansava de reclamar publicamente do ambiente da equipe, do seu chefe Ron Dennis
e da suposta proteção a Lewis.
Sua temporada de estreia estava sendo tão boa que ele
havia chegado à China, penúltima corrida de 2007, com tudo para ser campeão. Das
15 corridas disputadas até então, havia ganho quatro, chegado ao pódio em 12 e
feito a pole em cinco. Então líder do campeonato com 107 pontos — 12 a frente
de Alonso e 17 a frente de Kimi Raikkonen —, Hamilton estava literalmente com a
faca e o queijo na mão para conquistar um título ainda na condição de
estreante. E as coisas só melhoraram quando, no sábado, ele conquistou a pole
no circuito de Shangai.
O começo de prova, disputado em pista molhada, não
poderia ser melhor: Hamilton manteve a primeira posição e mantinha uma segura
distância para seus principais concorrentes — Raikkonen estava em segundo e
Alonso lutava para roubar a terceira posição de Felipe Massa. Tudo parecia sob
controle, e o inglês estava com meio caminho andado para o título. Isso até a
chuva parar e a pista começar a secar na metade da corrida.
Foi aí que Hamilton começou a errar como nunca havia
feito durante toda a temporada. Seus pneus se deterioraram rapidamente, e o
inglês passou a ter sérias dificuldades para se manter na pista. Com isso,
Raikkonen, antes acomodado no segundo posto, logo se aproximou e tentou
ultrapassar o piloto da McLaren. O mais inteligente a se fazer era deixar o
finlandês passar e tentar ir aos boxes para investir em um novo jogo de pneus. Porém,
não foi isso o que aconteceu: além de ter continuado na pista, tentou resistir
ao máximo às investidas do então piloto da Ferrari, correndo o desnecessário
risco de se envolver em um toque ou cometer um erro crucial que o levaria a
abandonar a corrida. Para sua sorte, Kimi não foi afoito e esperou o momento
certo de ganhar a primeira posição.
As condições dos pneus de Lewis eram precárias e ele
começava a patinar na pista. A situação era tão complicada que ele tinha até
mesmo dificuldade em lidar com retardatários. Com isso, a aproximação de
Alonso, que já havia se livrado de Massa, foi inevitável. O espanhol havia
chegado a tirar sete segundos em uma só volta e já estava colando em seu
companheiro de equipe quando este resolveu ir aos boxes. Foi então que a F1
presenciou um dos maiores erros já cometidos por um piloto da categoria.
Ao tentar fazer sua parada, Hamilton, talvez tomado pelo
desespero e pela afobação e certamente prejudicado pelo péssimo estado de seus
pneus, tracionou muito mal a curva que dava acesso ao pits. O erro fez com que
seu carro fosse direto a uma pequena caixa de brita que antecedia os boxes, e
por ali mesmo sua McLaren ficou parada. Ron Dennis, claramente atônito e
nervoso, tentava se comunicar com o piloto, enquanto este pedia para os fiscais
da pista empurrarem seu carro para que ele voltasse a prova. Entretanto, os
chineses logo perceberam que a única coisa que poderiam fazer era chamar o
reboque para que aquele bólido prateado fosse retirado do local. O inglês, de
fato, estava fora da prova após um bizarro abandono.
Lewis, obviamente, foi massacrado após o erro. É verdade
que a McLaren também errou por não ter chamado o piloto aos boxes rapidamente.
Quatro voltas antes do abandono, durante o duelo contra Raikkonen, era nítido
que seu carro precisava de jogos novos. Porém, a maior parcela de culpa foi de
Hamilton. Não precisava fazer nenhuma mágica ali, apenas conduzir o carro com o
maior cuidado do mundo e tangenciar a curva corretamente — afinal, era sabido
que aquela era uma curva bem problemática, difícil de ser feita pelos afoitos e
apressados. Além disso, ele não precisava voltar para a pista rapidamente e
caçar seus principais concorrentes para ganhar a corrida. Sua condição na
tabela de posição era confortável demais para tomar riscos. De fato, a
inexperiência falou mais alto.
Raikkonen venceu a prova com tranquilidade, mas ainda era
o azarão na disputa pelo título: afinal, estava sete pontos atrás de Hamilton com
apenas uma corrida a ser disputada. Já o Alonso, que chegou em segundo, estava
em condição mais confortável, três pontos abaixo do companheiro de equipe.
Ainda assim, tudo era favorável ao inglês. Porém, ele conseguiu o
inacreditável: cometeu erros ainda piores no GP do Brasil, chegou apenas em
sétimo e viu Raikkonen vencer a prova e conquistar um dos títulos mais
improváveis da história da Fórmula 1.
Abaixo está o vídeo da hilária e curiosa transmissão
espanhola no momento do abandono de Hamilton. Pela empolgação do narrador e do
comentarista, é possível perceber como o clima era pesado na equipe e seus
pilotos realmente não se davam bem.
Nenhum comentário:
Seja bem vindo ao Leitura Esportiva. Seu comentário é bastante importante para nós!
Comentários anônimos não serão mais aceitos.