O bicampeão voltou a vencer, mas quase teve seu desempenho ofuscado pelo rendimento dos carros da Lotus
Por Leandro Gomes
Rio de Janeiro/RJ
Sebastian Vettel venceu no Bahrein e aproveitou para brincar com Kimi Raikkonen no pódio. Foto: Red Bull/ Getty Images. |
Ele voltou. Sebastian Vettel voltou a vencer na Fórmula 1
do jeito que mais sabe e gosta: fazendo a pole, liderando a prova quase inteira
e administrando sua vantagem em relação aos adversários. Foi uma vitória que
serviu para colocá-lo na condição de líder do campeonato geral, quatro pontos a
frente do vice Lewis Hamilton, assim como serviu para provar todo seu talento e
suas capacidades.
Bicampeão do mundo, em tese Vettel não precisaria provar
seu talento a ninguém. Infelizmente, ainda há aqueles que acham que o alemão só
conseguiu todos os seus triunfos porque sempre teve um equipamento bem superior
em relação aos demais. Então, o jovem piloto tratou de mostrar hoje que não é
bem assim: afinal, ainda longe de ter aquela Red Bull dominante do ano passado,
suportou muito bem a pressão de Kimi Raikkonen no final da prova, respondendo a
todos os seus ataques com voltas e tempos consistentes dentro da pista, que
fizeram o finlandês sossegar e se contentar com a segunda posição.
Porém, embora Vettel tenha se saído bem demais, não há
como negar que a Lotus foi a grande sensação da prova no Bahrein. O desempenho
da equipe foi esplendoroso, e permitiu colocar seus dois carros no pódio: o já
citado Raikkonen chegou em segundo, e o francês Romain Grosjean chegou em
terceiro, conquistando o seu primeiro pódio na categoria e voltando a colocar a
França no top 3 numa corrida, algo que não acontecia desde o terceiro lugar de
Jean Alesi no GP da Bélgica de 1998. Os carros da escuderia estão muito bons e
rápidos nesse ano, e se não pararem de se desenvolver, como no ano passado,
irão dar muito trabalho no resto da temporada.
O engraçado é que o desempenho da Lotus permitiu
comprovar o renascimento de seus dois pilotos. Raikkonen comprovou que não
perdeu a forma após a sua passagem discreta pelos ralis, enquanto Grosjean mostrou
que evoluiu demais após a sua curta e fracassada estadia na F1 em 2009. De
certa forma, as críticas ao francês após as duas primeiras corridas eram
injustas, pois após aqueles dois abandonos na Austrália e na Malásia muitos
ainda achavam que ele era aquele mesmo piloto medíocre dos tempos de Renault,
sem considerar seu amadurecimento na AutoGP e na GP2, categorias por onde
passou nos últimos dois anos. Hoje,
provando ser muito rápido e capaz de disputar posições com pilotos mais
gabaritados, Romain finalmente convencer a todos que realmente mudou demais —e
para melhor.
Porém, é verdade que a Lotus talvez não tivesse se saído
tão bem no Bahrein se a McLaren tivesse feito tantas besteiras. Tendo um
desempenho incrivelmente pífio nas paradas nos boxes, os mecânicos se
enrolaram, além de terem atrapalhado Jenson Button uma vez, conseguiram a
proeza de errarem nos três pits de Lewis Hamilton. O resultado não poderia ser
outro: uma corrida bem abaixo do esperado, com Hamilton terminando em oitavo e
perdendo a liderança, e Button, após o azar de ter um pneu furado, abandonando
nas últimas voltas, quando nem mais estava na zona de pontuação. A equipe inglesa
parece ter o carro mais equilibrado do grid, mas não chegará a lugar com tantos
erros.
Os erros que a McLaren comete nos boxes não estão mais
sendo vistos na Ferrari. As paradas feitas pela equipe estão sendo perfeitas,
muito ao contrário do que ocorria no ano passado. O problema é que o carro
continua um horror. Hoje, Fernando Alonso e Felipe Massa foram ótimos. Ambos
largaram bem demais, tiraram o máximo do carro e conseguiram o melhor ritmo de
corrida que puderam. Ainda assim, o desempenho foi fraco: o espanhol chegou em
sétimo, e o brasileiro, em nono, conseguindo assim seus primeiros pontos no
ano. Porém, dessa vez ficou claro: não dava para conseguir nada melhor. Felipe,
então, provavelmente fez sua melhor prova no ano, pecando apenas ao não passar
seu companheiro de equipe quando tinha um bólido mais rápido em mãos. O carro
dos italianos é bem fraco mesmo e não bate de frente com McLaren, Red Bull,
Mercedes e Lotus; e terão de fazer um trabalho brilhante para acertar até a
perna europeia.
E a Mercedes? Essa realmente é uma equipe estranha. Após
vencer brilhantemente na China com Rosberg, voltou a ter um desempenho discreto
demais. Nico pouco apareceu e chegou apenas em quinto, enquanto Michael
Schumacher conseguiu salvar um fim de semana que parecia desastroso chegando em
décimo, garantindo um ponto após largar em 22º. Porém, isso é pouco. A
escuderia alemã tem um equipamento bom demais para oscilar tanto no campeonato.
Já passou da hora de ser mais regular e conseguir melhores resultados com seus
dois pilotos —até porque é quase inadmissível que Schumacher tenha apenas dois
pontos após quatro corridas, após sofrer com problemas do time fora de seu
alcance.
Das equipes intermediárias, o destaque foi Paul Di Resta,
da Force India, que chegou em sexto. O escocês é discreto demais, mas é
justamente seu desempenho sólido que já lhe permitiu pontuar em três das quatro
provas disputadas até aqui, fazendo a equipe não sentir muitas saudades de
Adrian Sutil. Sauber e Williams, que vinham aparecendo na zona de pontuação,
decepcionaram e saíram de mãos vazias do Bahrein. Outro que fracassou foi
Daniel Ricciardo, da Toro Rosso, que largou num excelente sexto posto, mas
chegou apenas em 15º após perder 11 posições apenas na largada.
Após o GP do Bahrein, deve-se agradecer ao fato de grave
ter ocorrido àqueles envolvidos no GP, pois foi um grande risco ter ido ao
país, envolto em grande conflito político. Enquanto isso, o campeonato vem
pegando fogo e preza pelo equilíbrio. Tivemos quatro vencedores diferentes nas
quatro corridas disputadas até agora, e sem uma equipe claramente superior em
relação aos demais. Se nenhuma equipe tiver um salto gigantesco até o início da
temporada europeia, é provável que o equilíbrio continue sendo constante nessa
temporada.
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