Maior vencedor do GP de Mônaco, Ayrton Senna precisou de muita sorte e paciência para vencer a corrida no ano de 1992
Por Leandro Gomes
Rio de Janeiro/ RJ
Ayrton Senna suportou a pressão de Nigel Mansell para vencer o GP de Mônaco de 92. Foto: LAT/ Williams |
Ayrton Senna não recebeu o título de Rei de Mônaco a toa.
O brasileiro é até hoje o maior vencedor das provas disputadas em Monte Carlo,
tendo chegado ao lugar mais alto do pódio em seis ocasiões. Porém, não pense
que o fato de ter feito história no lugar significa que todas as suas vitórias
por lá foram fáceis. Muito pelo contrário, como provam os acontecimentos do dia
31 de maio de 1992.
A temporada de 1992 vinha sendo — e na verdade foi —
muito difícil para Senna. A McLaren, sua equipe, vinha encontrando muitas
dificuldades no começo da temporada, e não conseguia acompanhar o ritmo da
Williams, muito superior em relação às demais escuderias. Como Ayrton também
esbarrava nos problemas de confiabilidade de seu carro e já começava a se
desmotivar, o brasileiro chegou à Mônaco, sexta corrida da temporada, tendo
pontuado em apenas duas das cinco corridas iniciais, enquanto Nigel Mansell, da
equipe de Sir Frank Williams, havia incrivelmente vencido as cinco. Dessa
forma, se encontrava num discreto quarto lugar na classificação geral, com
apenas oito pontos, 42 atrás do líder Mansell.
No treino de qualificação, Ayrton Senna fez o que pode e
conquistou a terceira posição do grid de largada. Porém, nada indicava que as
coisas melhorariam: afinal, Senna ficou a mais de um segundo do pole Mansell,
num indicativo de que seria quase impossível bater as Williams naquele fim de
semana, ainda mais numa pista como Monte Carlo, onde é dificílimo conseguir alguma
ultrapassagem. A única saída então era conseguir algo milagroso na largada.
Não foi o que aconteceu. Senna largou bem, chegou a ultrapassar
Riccardo Patrese, mas ficou longe de superar Mansell. Restou ao brasileiro
suportar os ataques do italiano enquanto esperava por um milagre, ou seja, a
saída ou algum infortúnio com Mansell. No entanto, isso era muito difícil. O
inglês, embora fosse um piloto muito suscetível a erros, tinha um carro tão bom
em mãos que logo abriu uma distância enorme em relação aos demais, dando-se o
luxo de controlar a corrida sem forçar muito e diminuindo as chances de errar. Dessa
forma, a monótona prova, sem muitas emoções, chegava ao seu final.
Aproximadamente na volta 70, Mansell precisou
inesperadamente ir aos boxes após ter um problema em um de seus pneus. A lenta
parada fez com que o inglês perdesse toda a diferença para Senna, que já havia
se livrado dos ataques de Patrese há muito tempo e apenas esperava os futuros
acontecimentos da prova. Quando Nigel
finalmente saiu dos boxes, estava a pouco mais de cinco segundos atrás de
Ayrton, novo líder da prova. Dali em diante, a F1 presenciou uma das disputas
mais épicas da sua história.
Mansell podia ser um piloto muito afobado, mas conseguia
ser absurdamente rápido. Com o foguete que a Williams era em mãos, não foi nada
difícil tirar a diferença em relação à Senna. Descontando furiosamente quase
três segundos por volta, o inglês rapidamente se aproximou de Ayrton e reduziu
a diferença à pó a três voltas do fim. O que tricampeão poderia fazer, então?
Simples: saber aproveitar o circuito travado a seu favor.
Mansell sempre dava a impressão de que ultrapassaria Senna chegando muito forte
nos trechos de mais velocidade, principalmente no túnel. Porém, o brasileiro
tinha calma suficiente para suportar a pressão e fechar a porta quando era
preciso. Mas o inglês era insistente e, aproveitando seu carro bem mais rápido,
tentava “criar” novos pontos de ultrapassagem, desconcentrando Ayrton e
levando-o a tomar atitudes mais enérgicas, quase o induzindo além dos limites
da McLaren, ou seja, ao erro.
Mas Senna não cedeu. Suportou Mansell babando e pegando
seu vácuo nos trechos mais velozes, fechou a porta em curvas como a Loews e a
Rascasse, onde as poucas ultrapassagens costumavam ocorrer, e não se apavorou
ao ver seu oponente tentar manobras dificílimas em locais como o S da Piscina.
Dessa forma, conseguiu vencer pela primeira vez na temporada e pela quinta vez
em Mônaco, então igualando o recorde de Graham Hill. O vídeo abaixo, aliás, mostra como as coisas não foram fáceis para Senna.
É verdade que Senna teve sorte de isso ter ocorrido em
Monaco. Em qualquer outro circuito Mansell conseguiria a ultrapassagem, pois
seu carro era muito superior à McLaren. Porém, é bom lembrar que Nigel era um
piloto sensacional no quesito ultrapassagem, conseguindo as mais impossíveis da
história da F1. Então, não seria tão surpreendente vê-lo fazendo isso em Monte
Carlo também — até porque ele já havia conseguido uma ultrapassagem
impressionante no ano anterior, em cima do “Professor” Alain Prost, como visto
no vídeo abaixo.
Com a vitória, Senna pulou para os 18 pontos, mas sua
situação no campeonato não melhorou muito. Aliás, 1992 talvez tenha sido sua
pior temporada, pois terminou na quarta posição, tendo vencido apenas três
vezes. Em 1993, porém, as coisas melhoraram: mesmo não tendo vencido o
campeonato (foi o vice), fez algumas de suas melhores corridas na carreira,
além de ter vencido em Mônaco pela sexta vez. Dessa forma, se tornou o maior
vencedor por lá, recorde nem mesmo igualado até hoje.
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