health

[automobilismo] [bleft]

Technology

[futebol][bsummary]

business posts

[futebol][twocolumns]

Londres-2012: Beijou e disse adeus


Medalhista de ouro em 2004, o chinês Liu Xiang completará sua segunda olimpíada sem subir ao pódio

Por: Eduardo Madeira Junior
Lauro Müller/SC

Liu lamenta o erro e deve encerrar a carreira (Reuters)
O sol nem havia nascido ainda e eu já estava de pé para acompanhar os Jogos Olímpicos. Admito que não faço questão de levantar de madrugada pra acompanhar hóquei na grama, mas se as obrigações diárias de uma pessoa trabalhadora já me fazem deixar a cama mais cedo, que haja um pretexto realmente forte para enganar o sono e me levar para frente da televisão.

No “cardápio olímpico” estava o handebol feminino, Brasil x Noruega. As meninas de nosso país faziam um jogo bem bacana e foram para o intervalo com uma vantagem de quatro gols – no segundo tempo, o Brasil fez apenas seis gols e acabou deixando a competição. Eu teria mais quarenta minutos para me ocupar até sair de casa e decidi assistir o atletismo, um dos esportes mais bacanas que existe.

Não acompanho e sei muito pouco. Conheço o básico, nada que uma pessoa qualquer não possa saber, mas assim como uma criança enxergando um avião voando numa cidade de interior, fico rindo ingenuamente de tudo acontece no atletismo, acho tudo lindo e maravilhoso.

A prova que me fez grudar na televisão antes mesmo de começar foi a competição de 110 metros com barreiras. A primeira coisa que notei foi um polonês marrento, batendo firmemente em suas pernas, acredito eu que seria para soltar um pouco a musculatura. Esse atleta era Artur Noga, medalha de bronze da categoria no Campeonato Europeu deste ano, realizado em Helsinki.

Logo em seguida, os profissionais que transmitiam o evento destacaram que aquela era uma prova muito forte por contar Liu Xiang da China, Andrew Turner da Grã Bretanha, além de Artur Noga. Balázs Bazi, que ficou apenas um segundo atrás do polonês no campeonato europeu, também estava nesta “remessa” de atletas.

O mais elogiado era Liu. Não era à toa, já que nos Jogos de Atenas em 2004, o chinês levou para casa a medalha de ouro nos 110 metros com barreiras, a primeira de seu país no atletismo. Ao bater o recorde olímpico e mundial, ele mostrou que os chineses, antes caracterizados pela pouca força física, também poderiam fazer sucesso em competições atléticas.

Quatro anos depois, Liu Xiang era a grande esperança da China para conquistar uma medalha nos jogos que eram realizados no país. Porém, o barreirista sofria com problemas no tendão de Aquiles e chegou a ficar sem treinar para se poupar. Em uma das baterias de classificação, aproveitou a queimada de um adversário para abandonar a prova. Um misto de dor e angústia marcou o Ninho do Pássaro, que aguardava ansiosamente por uma medalha do atleta. O barreirista retornou as pistas 13 meses depois.

Ultrapassa-se outro ciclo de preparação olímpica e novamente Liu Xiang chegava como um dos grandes candidatos a conquistar a medalha em Londres. Assim como em 2008, o chinês participou da sexta bateria e usou o número 1356 na inscrição. Essas coincidências chamaram o fantasma de Aquiles.

Liu tinha largado bem, parecia que venceria com sobras – isso é um leigo falando -, mas parou na primeira barreira. O chinês foi com a sola do pé no obstáculo e caiu com tudo. Artur Noga só não foi junto porque se contundiu ainda na arrancada, enquanto Shane Brathwaite parou em outra barreira, mas ficou em segundo plano, todos queriam saber o que se passava com Liu.

A reação foi imediata, ou melhor, foi a esperada: não houve reação. O chinês ficou caído, esboçou ajoelhar-se, mas preferiu abaixar a cabeça e colocar a mão no tendão. O atleta da casa, Andrew Turner, quase nem foi notado, ele fez sua festa, mas até mesmo seus fãs estavam preocupados com Liu.

Liu atravessou a pista inteira num pé só
(Reuters)
Após alguns segundos no solo, ele se levantou e parecia estar incrédulo com aquela multidão tentando saber o que se passava naquele momento. Subitamente, o chinês saiu pulando apenas em seu pé esquerdo em direção a saída, logo ele notou que estava se dirigindo para a entrada. Quando retornava, a organização do evento já chegava com uma cadeira de rodas para levá-lo embora. Pensam que ele aceitou? Nada disso! Liu foi correndo pela pista num único pé, aclamado pelo público.

Quatro anos antes, muitos falavam que sua desistência na prova olímpica foi para não passar vergonha diante dos chineses, pois estava no sacrifício. Neste dia 7 de agosto, sua corrida desesperada me deu a sensação de que ao notar aqueles olhares, ele se apavorou.

Eis que o chinês brecou na última barreira, justamente a de sua raia. Por lá ele se escorou, olhou para o ambiente e deu um sinal que pode indicar seu futuro: um beijo na barreira. Seria o final de sua carreira? Cheguei a pensar que ele tentaria ultrapassar o obstáculo, mas não, ele foi para o lado da pista e “completou” a prova. O húngaro Baji o cumprimentou na chegada e logo em seguida, o vencedor da bateria, Turner e o espanhol Jackson Quiñonez demonstraram o que representa uma Olimpíada, ao carregarem Liu aos médicos.

Se após esse dia pude concluir que meu trabalho continua, Liu Xiang talvez não tenha chegado a mesma conclusão. O agonizante beijo na barreira deve ter sido o capítulo final da história do homem que colocou a gigantesca China no mapa do atletismo. 


Chinese hurdler Liu Xiang falls in his 110 meter... por Basket-infos

Nenhum comentário:

Seja bem vindo ao Leitura Esportiva. Seu comentário é bastante importante para nós!

Comentários anônimos não serão mais aceitos.