“Nunca fui
muito adepto do tal ‘fator-campo’. Sempre achei que se o time é bom em um
estádio, é bom em outro também. Claro que o ambiente criado por sua torcida
ajuda e dá forças ao time, mas não é ela que faz o caneleiro virar gênio de uma
hora pra outra. Porém, em algumas ocasiões, esse fator mostrou o porquê de ser
tão valorizado. É isso que contarei neste ‘Conto da Euro’”.
Por Eduardo M. Júnior
Lauro Müller/SC
Futebol Europeu Online
Luis Suarez, mesmo contundido, levou a Espanha a final. Foto: Empics. |
Em 1960, a França recebeu a
primeira edição da Eurocopa. Porém, Les Bleus morreram na praia e
foram eliminados pela Iugoslávia na semifinal. A decepção foi enorme, isso
porque os franceses tinham a vantagem sobre os iugoslavos de 4×2, mas em três
minutos – dos 30 aos 33 minutos da etapa final – cederam a virada e o 5×4
eliminou o time mandante.
Quatro anos depois, a
Espanha chegou determinada a mudar essa história. Naquela época, o país sede do
torneio era definido de acordo com os participantes da fase final da Euro. Foi
assim com a França e não foi diferente com os espanhóis, que com apenas uma
derrota em seis jogos, se qualificaram para a fase final e foi eleita como país
sede.
O formato da competição era
simples: quatro times, duas semifinais de jogos únicos, os vencedores duelavam
na final, que seria disputada no Santiago Bernabéu em Madrid. Os perdedores
teriam de se contentar com a disputa do terceiro lugar, que seria realizada no
Camp Nou em Barcelona.
Na semifinal, os espanhóis
tiveram muito trabalho. Diante de uma talentosa seleção húngara, a Espanha só
conseguiu a vaga para a final com um gol do merengue Amancio Amaro, aos
sete minutos do 2º tempo extra. A vitória teve enorme valor para a Espanha, que
além de chegar a sua primeira final de Eurocopa, vencia a Hungria de Flórián
Albert, Sándor Mátrai e Lajos Tichy com Luís Suárez, seu principal
jogador, atuando contundido desde a segunda etapa.
Na outra semifinal, a União
Soviética, atual campeã da Euro, bateu a Dinamarca com enorme facilidade. 3×0 e
Viktor Ponedelnik, autor do gol do título dos soviéticos quatro anos antes,
estava em grande forma, assim como Valentin Ivanov.
A grande final que seria disputada
no Santiago Bernabéu seria realmente “grande”. Quase 80 mil pessoas foram ao
estádio do Real Madrid para acompanhar a partida. E Luís Suárez, grande jogador
da competição, decidiu a peleja. Foi ele quem cruzou para o gol de Peneda aos 6
minutos de partida, gol que abrira o placar. Khusainov empatou dois minutos
depois.
Na hora de decidir, este
time espanhol assim fez. Já beirávamos os 40 minutos de partida na etapa final
e Amaro – autor do gol que colocou a Espanha na final – tinha a bola dominada na
ponta direita. Ele estava sozinho contra a marcação. Tentou de algum modo se
virar. Girou pra lá, girou pra cá, até que encontrou espaços pra cruzar. Assim
o fez! Amaro ainda contou com a sorte de Shustikov furar na hora de cortar. A
bola sobrou para Marcelino Martínez, que em uma violenta cabeçada mandou pras
redes. A Espanha poderia finalmente gritar “É campeão!”.
Luís Suárez chegou a
declarar que atuou em seleções mais talentosas do que a Espanha de 1964, mas
que não ganhou nada. Mas com aquela seleção treinada por José Villalonga, foi
diferente. Aquilo era mesmo um time e por isso ergueram a taça.
A Espanha ergueu sua primeira Eurocopa em 1964. Foto: Getty Images. |
Quatro anos depois, a
história se repetiu. O formato da fase eliminatória era diferente – oito
grupos, os vencedores de cada grupo se pegavam em duelos de mata-mata, os
vencedores iam pra fase final –mas a fase final era a mesma, quatro times, duas
semifinais de jogos únicos e a final. Inglaterra, Itália, Iugoslávia e União
Soviética eram as equipes que disputariam a fase final, que seria realizada na Velha
Bota.
Enquanto no Stadio Comunale
a Iugoslávia batia a Seleção Inglesa pelo placar mínimo, o jogo disputado no
San Paolo só foi decidido na moedinha. Itália e União Soviética ficaram no 0×0
tanto no tempo normal, quanto no extra. Resultado: fomos pro cara ou coroa e os
italianos levaram essa.
Essa situação quase ocorreu
novamente na final disputada no Olímpico em Roma. Itália e
Iugoslávia ficaram no 1×1. Domenghini salvou a Azzurra nos minutos
finais, mas o goleiro da equipe, Dino Zoff, disse que “a Itália não merecia
empatar”. Merecendo ou não, foi forçado o segundo jogo e nesta peleja, Riva e
Anastasi deram o título aos italianos.
E através da história temos
outros exemplos de seleções que fizeram valer o fator campo e foram longe na
Euro. Em 1984, a
França, de Michel Platini, ergueu o troféu jogando a final no Parc des Princes
– já com o torneio em um formato semelhante ao atual. Em 1992, a Suécia foi quem
surpreendeu e chegou a semifinal da Euro. A Dinamarca, vizinha dos suecos, foi
a campeã. Em 96, a
Inglaterra morreu em mais uma disputa de penais, daquela vez, na semifinal. E
em 2004, Portugal empolgou, cativou o Brasil inteiro por causa de Felipão, mas
sucumbiu aos gregos na final.
E em 2012? Será que
poloneses e ucranianos surpreenderão a todos e chegarão a colocações
inimagináveis? Só com a vinda do torneio para sabermos!
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