Geralmente, vizinhos no
mundo futebolístico são rivais e se odeiam até a alma. Mas isso não impede que
em alguns casos eles se entendam. É o que aconteceu em 1992.
Por Eduardo M. Junior
Lauro Müller/SC
Futebol Europeu Online
A Suécia recebeu a nona edição da UEFA Euro. |
O ano era 1992 e a
Escandinávia receberia uma Eurocopa. O país em questão era a Suécia. Mesmo
com toda boa organização feita, algo já esperado de uma entidade como a UEFA, o
torneio teve alguns percalços antes mesmo de seu início.
A Iugoslávia era uma das
seleções que estava qualificada para a Euro 1992. A seleção treinada
por Ivica Osim terminou em primeiro no Grupo 4 das eliminatórias, tendo somado
14 pontos, ficando na frente de Dinamarca, Áustria, Irlanda do Norte e Ilhas
Faroe. Porém, os iugoslavos, que terminaram a fase qualificatória com o melhor
ataque – 24 gols – e com Pancev de artilheiro – 10 gols – não pode participar
da fase final. Uma guerra que acontecia no país, somadas a alguns problemas
políticos, forçaram a UEFA a banir os iugoslavos da competição.
A Dinamarca, que acabara na
segunda colocação no grupo da Seleção Iugoslava, foi convidada para participar
do torneio em seu lugar.
O outro “problema” talvez
até não mereça receber esta alcunha. A União Soviética, única seleção ao lado
de França e Inglaterra a se classificar para a fase final do torneio de forma
invicta, foi desmantelada no final de 1991 após o fim da Guerra Fria. O
resultado disto foi que a seleção que disputou a Euro de 1992 foi um “apanhado”
de jogadores das repúblicas da ex-União Soviética, menos Estônia, Letônia e
Lituânia, formando estão a CIS – Commonwealth of Independent States, em
português, Comunidade dos Estados Independentes. A base do time era feita por
jogadores russos e ucranianos, porém, muito enfraquecida, já que alguns atletas
importantes decidiram não se juntar a esta seleção.
No resto, nenhum problema
maior!
Julgando apenas os nomes,
poderíamos dizer que o grupo A era o mais curioso. Duas seleções nórdicas
estariam frente-a-frente: Suécia e Dinamarca, vizinhos no continente, mas
naquela oportunidade, adversários no gramado. Do outro lado, duas seleções com
história e que saíram da fase de grupos invictas: França e Inglaterra.
E o interesse pelo grupo não
ficou apenas no pensamento, já que tivemos emoção até a última rodada. Só para
ter noção do nível de dramaticidade do grupo, a primeira vitória saiu no quarto
jogo, Suécia 1×0 Dinamarca. Este triunfo foi o impulso necessário para os
suecos conquistarem a torcida local e buscar a vitória no jogo seguinte diante
a Inglaterra – 2×1, com mais um gol de Brolin, que já havia deixado sua marca
na partida contra a França – e consequentemente, a classificação.
Já os Dinamarqueses pareciam
desinspirados. Chegavam ao torneio como convidados e dos quatro pontos – a
vitória valia dois pontos na época – possíveis para se somar, apenas um veio. A
sorte da Dinamarca era que tanto França quanto Inglaterra somaram dois pontos.
E como foi dito no parágrafo anterior, o English Team perdeu na
última rodada para a Suécia, então bastava aos dinamarqueses uma vitória sobre
a França para voltar a uma semifinal desde 1984, quando ganharam o apelido de
“Dinamite Dinamarquês”, graças a bela campanha no torneio.
Henrik Andersen e Flemming Povlsen comemoraram a classificação dinamarquesa. Foto: Getty Images. |
O duelo contra a França
estava nervoso. Já passávamos dos 30 minutos da etapa final e dinamarqueses e
franceses estavam no 1×1 – Larsen pra Dinamarca e Papin para a França -, mesmo
resultado de Suécia e Inglaterra. Os anfitriões da competição estavam se classificando,
enquanto franceses e ingleses estavam empatados em todos os critérios. Pior pra
Dinamarca, que eliminada, ficaria chupando dedo. Só que um jogador salvou a
pátria dinamarquesa: seu nome é Lars Elstrup.
O atacante que defendia o
Odense aproveitou cruzamento rasteiro que veio da direita e completou pro gol.
Mal sabia Elstrup que este gol decisivo foi uma surpresa inclusive
pro técnico Richard Moller-Nielsen, que anos mais tarde declarou que já estava
se preparando para consertar a cozinha, quando soube que sua seleção disputaria
a Euro de 92.
Minutos depois, Brolin
marcaria mais um para a seleção sueca e classificaria as duas seleções nórdicas
para as semifinais da Euro 92. Um feito marcante ter duas seleções da mesma
região do continente disputando a fase decisiva do maior torneio de seleções da
Europa, ainda mais que ambos os selecionados poderiam ser considerados azarões
na competição.
Os suecos protagonizaram um
jogo histórico, porém, com final triste na semifinal. O adversário da vez era a
Seleção da Alemanha, comandada pelo lendário Berti Vogts. Os alemães venceram
por 3×2, mas com alta dose de dramaticidade. Com o jogo em 2×1, Riedle marcou o
terceiro gol aos 43 minutos da etapa final e um minuto depois, Kennet Andersson
descontou. Só que a reação sueca parou por aí.
Na outra semifinal, a
Dinamarca bateu de frente com a Holanda e os dois selecionados proporcionaram
um confronto que não perdeu em dramaticidade para a outra semifinal. Os
dinamarqueses levavam a vitória por 2×1 até os minutos finais, quando Frank
Rijkaard empatou o jogo quando restavam menos de cinco minutos para encerrar a
partida.
A partida foi para as
penalidades e foi a hora da grande estrela dinamarquesa brilhar. Peter
Schmeichel já havia evitado a derrota de sua seleção no tempo normal, após
fazer inúmeras defesas importantes. Na hora que o goleiro só tem uma
alternativa – defender o pênalti – a sua estrela teve o maior brilho.
Schmeichel catou uma
cobrança de van Basten, herói holandês no título da última Eurocopa, e colocava
sua seleção numa inédita final continental. E os dinamarqueses, de convidados
eram finalistas da Eurocopa!
Na final, teríamos o
voluntarioso time dinamarquês contra o badalado esquadrão alemão. A Alemanha
tinha nomes de peso no cenário internacional, como Völler, Effenberg, Klinsmann
e Sammer, já a Dinamarca não poderia se gabar de ter seu principal nome no
torneio. Michael Laudrup, grande jogador do país na época, decidiu não
participar da competição por divergências com o técnico. Um grande tapa na cara
do atacante, que deixou de ser a estrela de uma seleção marcante.
Jogando de forma simples,
porém, muito eficiente, a Dinamarca conseguiu terminar a etapa inicial com 1×0
de vantagem. O tento foi anotado John Jensen, em um petardo que deixou Bodo
Ilgner sem pai nem mãe, vide velocidade e colocação do tiro. Assim como nos
jogos anteriores, muito do placar vantajoso se devia a atuação de Schmeichel,
que novamente ia salvando sua seleção.
E a história se repetira na
etapa final, com o arqueiro evitando o empate alemão. Só que em feroz
contra-ataque, Vilfort matou a decisão ao chutar no contrapé de Ilgner.
Em 1992, a Dinamarca conquistou a Europa pela primeira vez. Foto: Getty Images. |
Após o apito final do árbitro, uma
emoção nunca antes sentida pelos dinamarqueses explodiu no estádio Ullevi em Götemburgo. A Dinamarca ,
outrora badalada – “Dinamite Dinamarquês” e “Dinamáquina” são só alguns
exemplos de times anteriores ao campeão em 92 – conquistava um título europeu
em cima de um gigante do continente e todos os atletas eram gratos a
Schmeichel, o humilde astro daquele time.
As fantásticas campanhas de
Dinamarca e Suécia deixaram um enorme legado para o futebol escandinavo. Muitos
dos atletas que participaram da Eurocopa em 1992, viriam também a participar de
competições futuras tanto de Dinamarca, quanto da Suécia. O problema de ambos
foi uma tal seleção que tem apelido de Amarelinha. O Brasil parou os
suecos na Copa de 1994 e os dinamarqueses em 1998.
Será que se não fosse a
Seleção Brasileira, esses selecionados seriam mais do que “um rostinho bonito”?
Impossível saber! Mas o fato é que a Euro 92 ficou marcada na história de
Dinamarca e Suécia, já que foi o pontapé inicial para o considerável avanço de
ambos países no cenário futebolístico.
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