A semelhança entre o Barcelona e um sistema da saúde eficiente
Prevenir é
melhor do que remediar. A filosofia do Barça de ficar com a bola, tem profundas
semelhanças com o sistema de saúde focado na prevenção de doenças. Entenda.
Por Wilson Hebert
Rio de Janeiro/RJ
O futebol do Barcelona dificilmente fica doente. Foto: montagem feita por Wilson Hebert |
Quando o Barcelona entrou em
campo para enfrentar o Bayer Leverkusen pela partida de volta das oitavas-de-final
da Champions League, a escalação organizada por Pep Guardiola era: Valdes; Daniel
Alves, Mascherano, Pique e Adriano; Busquets, Xavi e Iniesta; Fábregas, Messi e
Pedro. Não houve - como filosoficamente não há - a preocupação com jogador de
contenção, de marcação, especialista em roubar a bola. Ou seja, não há o famoso
volante brucutu. Não há o camisa cinco para carregar o piano nas costas. No
caso do time catalão, na área da defesa já se deve iniciar as jogadas.
A filosofia do Barcelona
nada tem a ver com aquela convencional tão vista e revista no mundo do futebol:
“quando eles (o adversário) estiverem com a bola, precisamos de marcadores para
roubar a bola”. Isto significa aguardar o problema acontecer para, só então,
tentar resolvê-lo, o que, aliás, é normalíssimo no futebol brasileiro. E na saúde
pública também.
Aqui no Brasil é comum os
times (mesmo os grandes) terem aquele cara cuja especialidade é destruir as
jogadas alheias. E na saúde pública, esperamos as pessoas ficarem doentes,
enfrentarem horas e horas por um atendimento, enfrentando filas exaustivas e
intermináveis para, quem sabe, descobrirem do que sofre, e daí ainda quem sabe,
conseguirem se remediar. Nem sempre esse processo acontece com êxito.
Num sistema da saúde eficiente
e na filosofia blaugrana, a ideia é: não vamos resolver problema nenhum, apenas
vamos impedir que ele aconteça.
Quando especialistas de saúde
cedem entrevistas, geralmente todos batem na mesma tecla: não adianta construir
hospital, posto de saúde etc. se não ensinarmos o cidadão a evitar as doenças.
Pior, existem muitos casos de óbito entre os menos favorecidos socialmente por
um problema iniciado através de uma doença “boba”, que poderia muito bem ser
evitada com cuidados básicos.
E é justamente para evitar o
“óbito da partida” que Guardiola segue seu plano de jogo que se consiste na
possa de bola – ter mais de 80% de domínio da "redonda" pode parecer bobagem, mas
não é -. Todavia, este conceito só é possível porque jogadores capazes de fazerem bons passes são
valorizados. E o passe é um dos requisitos mais básicos do futebol, mas que
podem evitar um estrago grande. Com isso, o Barça quase não permite que o
adversário tenha chance de trabalhar jogadas, tabelar. Sem a bola, nenhum time
pode oferecer perigo a ninguém, mesmo que tenha cinco atacantes ou trezentos
volantes.
Num sistema da saúde
eficiente, o cidadão é ensinado a se prevenir, ou seja, impedir a chegada de
certas doenças ao invés de remediá-las, muitas vezes já em estado debilitado.
Essa preocupação (que em países da Europa nada mais é que um hábito) evita a
necessidade cansativa e indesejável da pessoa (enquanto paciente) de se deslocar
ao hospital em busca de uma receita ou então de algum cuidado mais detalhista por
parte do médico.
Este que vos escreve fica e
ficará insistentemente na torcida para que o sistema público de saúde
brasileiro, assim como o futebol tupiniquim, evolua e descubra que o problema
que o atormenta pode ter uma solução muito mais simples do que se imagina. Com
a posse da bola no futebol e com a prevenção quando se fala em saúde, ninguém
poderá ser ameaçado.
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