Chegou ao fim um verdadeiro império. Decadência moral de sua sociedade ou classe dirigente geralmente é um dos fatores em comum entre as quedas. E não poderia ser diferente com o império que foi instaurado na CBF por mais de duas décadas.
Luiz Guilherme de Almeida e Suzana Moura
Belo Horizonte - MG e Niterói - RJ
Foto: Wikipédia.org |
Mas será mesmo que o balanço final é positivo? Será que todas as conquistas da
seleção dentro do campo não ficaram manchadas, de alguma foram, por terem
passado pelas mesmas mãos que são acusadas de inúmeras polêmicas, escândalos,
CPIs, denúncias de corrupção, nepotismo, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas, troca de favores políticos e principalmente, de enriquecimento ilícito
através do circo que virou a itinerante e desarrumada seleção brasileira?
No
final, o que fica é a imagem de uma
administração corrosiva, maligna, que causou muito mais problemas do que os
solucionou. Aqui faremos um balanço, uma linha do tempo final do que foi esse
período obscuro. Mas o verdadeiro balanço da adminstração a ser feito, eu
proponho à sua própria reflexão, caro amigo leitor. Foram 23 anos de Ricardo
Teixeira à frente do nosso futebol.
· Chegou ao comando da Confederação Brasileira de Futebol
(CBF), em 1989, sucedendo Octávio
Pinto Guimarães. Encontrou a entidade quase sem condições de arcar com os custos da
preparação da seleção brasileira para a Copa
do Mundo de 1990, na Itália.
1990
- Eliminação nas oitavas de final da Copa na Itália, para a Argentina. Primeiro grande fracasso dentro do campo.
- Dá-se início ao jogo político da CBF que se consolidaria ao longo dos anos. Teixeira rompe com o então Ministro dos Esportes, Zico e o Diretor Executivo da CBF, Eurico Miranda, usando verdadeiro golpe.
1994
· Após preparação
desorganizada e sofrido desempenho nas eliminatórias, o Brasil classifica-se
para a Copa do Mundo nos EUA e sagra-se tetra campeão mundial. Eram 24 anos de
jejum.
· No episódio
conhecido como “Vôo da Muamba”, Teixeira juntamente com toda a delegação
brasileira desembarca no Brasil declarando de forma incorreta os gastos feitos
nos EUA. Teixeira comanda ação que exigia a liberação, por parte do governo, de
tal privilégio para a entidade. Estima-se que as 17 toneladas de bagagem extra
deveriam render ao governo vários milhões. Somente R$50 mil entraram nos cofres
públicos.
- Brasil é bronze nas
Olimpíadas de Atlanta.
- Brasil é campeão da
Copa América
- Entra em jogo a
parceria CBF-Nike.
1998
·
Esteve envolvido também em campanhas políticas de
dirigentes esportivos, com o intuito de manter no Congresso Nacional uma bancada de deputados e senadores para defender seus interesses, que
ficou conhecida como bancada de bola. Com a montagem deste
esquema de poder, assegurou suas quatro reeleições.
- Dentro de campo, a
seleção perde o título da Copa para a França em uma final cheia de
polêmicas e suposições, até hoje não muito bem explicadas.
- Surge a Copa João
Havelange. Impossibilitada pela Justiça de organizar o campeonato, a CBF
passou a responsabilidade ao Clube dos 13. Mas, como este não pôde aplicar
os critérios de acesso e descenso do ano anterior, acabou gerando o maior
Campeonato Brasileiro de todos os tempos, reunindo 116 clubes de três
divisões em um único torneio, porém dividido em 4 módulos na sua primeira
fase.
-
Presta depoimento à
CPI do Futebol e da Nike. Até 1996 a entidade dava lucros. Depois de
assinar contrato de U$160 milhões com a Nike, passou a dar prejuízo, pegar
empréstimos a juros exorbitantes e uma série de irregularidades foram
descobertas. Descobriu-se uma série de empresas suas e de comparsas ligadas a
transações irregulares de dinheiro. Afirmou em depoimento na CPI que havia
ganhado tanto dinheiro investindo em ações, mesmo sabendo-se que havia
falido neste ramo no início de sua carreira. Com auxílio de congressistas fiéis, consegue se livrar das acusações.
2002
- Brasil vence o
segundo título mundial da “Era Teixeira”, na Copa da Coréia do Sul e
Japão.
- É instaurada a
fórmula de pontos corridos ao Campeonato Brasileiro.
2006
- Brasil é eliminado
da Copa da Alemanha nas quartas de final.
- Em Assembléia
Geral, Teixeira decide que o mandato do presidente da entidade passaria de
quatro para sete anos. Eleito em 2007, Teixeira se garantiria até a Copa
do Mundo de 2014.
2007
- O Brasil é definido
pela FIFA como palco da realização da Copa do Mundo de 2014. Não houveram
concorrentes.
- A bancada da bola agiu novamente sob influência de Ricardo Teixeira e
de 12 governadores,
que previamente foram à Europa a convite de Ricardo Teixeira, por ocasião
da escolha do país sede da Copa do Mundo de 2014, para impedir a
instalação da CPMI do Corinthians/MSI, com a retirada de votos a favor da
CPMI na última hora. O argumento era que a CPI poderia influenciar na
escolha da sede. No episódio, 71 parlamentares mudaram de opinião, e
apenas 3 se justificaram.
2011
- O jornalista
britânico Andrew Jennings acusou Ricardo Teixeira e o ex-presidente da FIFA,
João Havelange, de receber propinas para assinaturas de contrato da
entidade máxima do futebol com a ISL.
- Teixeira é também
acusado pelo ex-presidente da federação inglesa, David Triesman, de pedir
incentivo financeiro à Inglaterra, que era canditada a ser sede da Copa de
2018.
- O deputado federal
Anthoy Garotinho reuniu 117 assinaturas de deputados para abrir nova CPI
contra o dirigente, mas precisava de 171. Muitos outros parlamentares
ficaram com medo de bater de frente com Teixeira.
- Em junho de 2011, Teixeira dá uma polêmica e reveladora entrevista à revista Piauí. Nessa, cheio de si, Teixeira abusa do sarcasmo, ironia, zomba de canais de comunicações, rebate as acusações e faz ameaças.
esportes.r7.com
- Denúncia aponta que
Sandro Rosell, presidente do Barcelona que recebeu R$9 milhões do governo
de Brasília pela Ailanto Marketing, no episódio do amistoso contra
Portugal, depositou R$3,8 milhões na conta de Antônia Wigand Teixeira, 9,
filha de Ricardo Teixeira.
- Teixeira pede
afastamento médico e indica José Maria Marin como vice-presidente mais
velho como seu substituto.
- Quatro dias depois,
o dirigente renuncia.
Durante sua gestão na CBF, as seleções brasileiras,
de todos os níveis, conquistaram 11 títulos mundiais e 27 sul-americanos,
consolidando a sua hegemonia no cenário mundial.
Ricardo Teixeira sai deixando para trás centenas de
pontos nos quais o futebol brasileiro ainda caminha a passos de formiga e que
deveriam ter sido sanados a um bom tempo.
José Maria Marin
O
mais novo membro da CBF e do Comitê Organizador da Copa atende pelo nome de José
Maria Marin. Com a renúncia de Ricardo Teixeira, coube ao seu vice-presidente
mais velho assumir o trono da entidade que comanda os rumos do futebol
brasileiro. Marin é de certa forma desconhecido para muitos da sociedade, mas é
vivido no meio da cartolagem e já desempenhou algumas funções relevantes.
Entretanto, mesmo com a mudança no comando da entidade, o próprio Marin já foi
enfático: não pretende fazer nenhuma mudança drástica no comando da CBF até
2015, data em que o atual mandato terminaria a princípio. Não haverá mudanças
na estrutura, na organização, muito menos existem novas propostas/idéias. No
ar, fica a certeza. Tem mesmo o feudo, um novo suserano?
No último dia 25 de
janeiro, Marin protagonizou um episódio vexatório. Durante a premiação após o
jogo final da Copa São Paulo de Futebol Junior, vencida pelo Corinthians, no
Pacaembú, o ex-governador
"disfarçadamente" embolsou uma das medalhas que seria entregue
ao jogador Mateus do Corinthians. O ato foi flagrado e exibido ao vivo em rede
nacional pelas câmeras da Rede Bandeirantes de Televisão. O episódio causou
revolta e foi muito comentado nas redes sociais, o que lhe cunhou o apelido de
“Zé das Medalhas”. Na cerimônia de posse, bastante irritado, o dirigente explicou que tudo não passou de
um mal entendido, já que a medalha havia sido uma cortesia do presidente da
Federação Paulista de Futebol, Marco Pólo Del Nero, para que ele pudesse usar
de modelo na elaboração de uma premiação semelhante, produzida pela CBF.
Existem dois
lados dessa nova empreitada de Marin. É óbvio que o futebol brasileiro clama
por uma mudança drástica na sua organização, começando principalmente por quem
a deve fazer. Com tantos anos sendo comandada pelo mesmo homem, o desgaste
político-esportivo é visível, prejudicial. Poderiamos citar inúmeros tópicos de
melhora,– adequação de calendário, datas FIFA, estaduais fraquíssimos, etc - ou
ao menos propostas . Mas parece que isso não está na pauta do novo presidente.
Defendendo o seu
lado, ele reafirma aos quatro cantos que irá dar continuidade à “estupenda e
moderna” adminstração feita por Teixeira, além de contar com os mesmos
diretores do antigo comandante, pois esses “possuem a experiência necessária
para manter a CBF na trilha do sucesso e da boa adminstração”. Nessa toada,
concluimos que Marin sabe muito bem onde está.
zerohora.clicrbs.com.br
Do outro lado do
campo, o novo presidente já vê sua primeira disputa, essa sem tantas
possibilidades de medalhas a se conquistar. A situação política na qual
Teixeira organizou sua renúncia e colocou Marin no comando atenuou o forte
racha que existe na CBF hoje. Um grupo formado por presidentes de federações
- entre eles os descontentes Francisco
Noveletto Neto, do Rio Grande do Sul, Ednaldo Rodrigues, da Bahia, Rubens
Lopes, do Rio, e Paulo Schettino, de Minas Gerais – vem ganhando adeptos . Os
chamados “rebeldes” defendem a convocação de nova
eleição. Antes da assembléia geral extraordinária convocada por Ricardo Teixeira,
em que o mandatário comunicou a todos os presidentes de federações que
continuaria no cargo, o grupo era composto por sete dirigentes. Imediatamente
após a renúncia, o número de integrantes caiu para seis, mas, nas últimas semanas,
entre seis e oito cartolas de outras federações começaram a dar sinais de
aprovação a um novo pleito. Visando minimizar a situação, Marin afirma que é
perfeitamente democrático que entre as 27 federações haja discordância, mas ele sabe que tal cisma
pode ganhar cada vez mais força. As federações nunca se organizaram de fato
durante a Era Teixeira buscando certos ares de democracia. Lidar com grupos
insatisfeitos requer destreza e acima de tudo força política. E é aí que está o
primeiro grande desafio de Marin. Ele sabe que conta com a Federação Paulista,
mas pode precisar conquistar outras agora, massagear egos para ter apoio. Não
que isso seja algo improvável para um presidente de CBF – já vimos que de fato
não é – mas o momento agora é mais
turbulento. Sua carta na manga é afirmar continuidade da administração, baixar
a poeira que a CBF tem levantado e ao mesmo tempo, nos bastidores, trabalhar
essa questão como fundamental.
O que fica ao final desse primeiro ato é a sensação de que nada nudou,
que continuamos sem rumo certo na gestão do nosso futebol, além de tentarem nos
fazer acreditar na velha carochinha. Dizer que a administração passada fez
excelente trabalho e que só contribuiu ao futebol brasileiro é de uma empáfia
sem tamanho. Simplesmente não vimos inúmeros escândalos, bobagens e até mesmo
crimes sendo cometidos? Estávamos então todos imaginando toda essa mancha do
nosso futebol?
Esperei certo tempo para escrever uma primeira coluna sobre um quiçá novo
presidente da CBF, que daria início à quimioterapia para acabarmos de vez com o
câncer e suas metástases que minaram o nosso futebol por tanto tempo. Mas ao que
parece, o tratamento será feito a base de placebos. É como se o feudo realmente
não tivesse sido passado para outro suserano.
Infelizmente não temos nenhuma perspectiva de melhora pro nosso futebol a curto prazo.
ResponderExcluirMas pelo menos se foi um sanguessuga.
Excelente texto!
É o momento da Liga de clubes...
ResponderExcluirDeve-se aproveitar o bom momento economico para consolidar uma Liga forte na America do Sul.
Os 20 Clubes da Primeira Divisão deveriam fundar a Liga e adequar o calendário.