Matéria da Sports Illustrated faz sérias acusações sobre abuso de drogas e falta de disciplina na equipe
Vinicius Carvalhosa
Basquete (Pick and Roll)
Rio de Janeiro/RJ
Howland e Nelson. Foto: AP |
O programa de basquete de UCLA (Universidade
da Califórnia em Los Angeles) é o mais vitorioso da história
da NCAA,
com 11 títulos conquistados. Os Bruins já foram
comandados pelo maior técnico de todos os tempos no esporte
universitário, John
Wooden,
e já mandaram diversos jogadores para a NBA – Kareem
Abdul-Jabbar, Bill
Walton, Baron
Davis, Reggie
Miller, Kevin
Love e Russell
Westbrook,
só para citar alguns.
Porém,
os últimos três anos vem sendo de total decepção. O
repórter George
Dohrmann,
da revista Sports
Illustrated,
escreveu um artigo expondo
todos os problemas internos que levaram um programa até
então promissor sob o comando do treinador Ben
Howland a
três temporadas frustrantes. O jornalista não poupou a falta de
comando do técnico, além de citar consumo exagerado de álcool e
drogas entre alguns dos principais jogadores, como Reeves
Nelson,
dispensado da equipe no começo da atual temporada. Para entender o
que se passa no badalado campus hollywoodiano, é preciso voltar ao
começo da Era
Howland em
Los Angeles.
Sem
conquistar o título desde 1995, Howland (que
chegou em 2003) deu nova esperança aos fãs, levando a equipe por
três vezes seguidas ao Final
Four –
2006, 07 e 08. No primeiro, perdeu na final para a poderosa Florida
Gators,
de Joakim
Noah e Al
Horford.
UCLA, então, contava com nomes hoje na NBA,
como Jordan
Farmar, Darren
Collison, Arron
Afflalo e Luc
Richard Mbah a Moute.
Em 2007, perdeu novamente para os Gators,
agora na semifinal. O time já não contava mais com Farmar,
mas havia chegado o novato Russell
Westbrook.
Já em 2008, o time havia perdido Afflalo para
o basquete profissional, mas tinha o recém-chegado prodígio Kevin
Love.
Apesar do timaço, veio outra derrota na semifinal, para a Memphis
Tigers de Derrick
Rose e Chris
Douglas-Roberts,
além do técnico John
Calipari.
Após
três campanhas bem-sucedidas – embora muitos se perguntem como um
timaço sempre com, ao menos, quatro titulares hoje na NBA não
conseguiu ser campeão – tudo parecia bonito no campus
de Westwood. Ben
Howland recebia
diversos elogios por ter construído um time guerreiro e excelente na
defesa. Os Bruins ficaram
conhecidos como um time de pegada, de defesa forte, e, graças ao
técnico, jogadores pouco badalados antes de chegar na NCAA agora
eram material de NBA.
Dos
atletas citados acima como presentes nos três Final Four,
apenas Farmar e Love estavam
entre os 25 melhores nos rankings de recrutamento para a
universidade, ao saírem da high school, em seus respectivos anos.
Todos os outros foram cria do sistema de Howland,
que potencializou seus talentos e os ensinou a jogar bem na defesa –
coincidentemente, Farmar e Love são
os únicos jogadores dos citados que não são bons
defensores. Afflalo, Collison, Mbah
a Moute e Westbrook eram
menos badalados quando chegaram ao basquete universitário, e se
aproveitaram dos ensinamentos do técnico para se sobressair no
aspecto defensivo e galgar, assim, seus caminhos rumo ao melhor
basquete do mundo. Ainda faltou citar Ryan
Hollins,
presente na derrota na final para Florida,
e que hoje tem espaço limitado na NBA,
mas é conhecido como bom pivô defensivo.
Porém,
segundo Dohrmann na
matéria, Ben nunca
foi um técnico próximo dos jogadores – limitava-se ao contato nos
treinos e jogos. O que transformou-os em um time vitorioso foi a
união e o trabalho dos próprios atletas, que na época ficaram
conhecidos como os “Ben
Ball Warriors“.
A
partir das três excelentes campanhas seguidas que tudo começou a
desandar no Pauley
Pavilion, ginásio dentro do campus onde a equipe manda seus jogos.
Os bons resultados atraíram uma classe de jogadores que foi
considerada a melhor do país em 2008 – os Baby
Bruins.
Os cinco jogadores que chegaram vindos do colegial eram Top 50 nos
rankings de recrutamento, algo nunca antes visto. Parecia que o
futuro de UCLA estava
garantido. Eram eles os armadores Jrue
Holiday (segundo melhor jogador da high school na época), Jerime
Anderson e Malcom
Lee,
o ala-pivô Drew
Gordon e
o pivô J’Mison
Morgan.
Hoje, Holiday é
titular do Philadelphia
76ers, Lee é
calouro no Minnesota
Timberwolves,Gordon foi
dispensado e está nos New
Mexico Lobos e Morgan também
saiu para os Baylor
Bears. Anderson é
o único ainda no time, agora em seu último ano, sem nunca ter
correspondido às expectativas.
Segundo
o repórter, foi justamente a chegada dos Baby
Bruins que
disparou o gatilho da decadência da equipe. Super-badalados, eram
presença constante em festas no campus, regadas a álcool e drogas.
Fontes do time dizem que apenas Holiday e Lee eram
mais moderados e dispostos a treinar duro – não coincidentemente
os únicos que já estão na NBA,
embora Gordon esteja
cotado para a segunda rodada do draft desse ano. Logo, ficou clara a
divisão entre os novatos e os veteranos remanescentes das campanhas
anteriores. Os únicos titulares que haviam sobrado eram Darren
Collison e
o bom ala Josh
Shipp,
hoje no Galatasaray,
mas também ainda estavam no elenco jogadores importantes como Alfred
Aboya, Michael
Roll, James
Keefe, Mustafa
Abdul-Hamid e Nikola
Dragovic -
o promissor ala Chace
Stanback,
então calouro, pediu transferência após a temporada por jogar
poucos minutos, e hoje brilha na UNLV.
Holiday foi
o único a ganhar bons minutos no primeiro ano da geração. Muitos
torcedores criticaram, na época, Howland por
colocar o contestado Dragovic como
titular, por exemplo, no lugar do
talentoso-porém-problemático Gordon.
A derrota do time no Round 32 do torneio da NCAA para Villanova não
ajudou.
A
classe de recrutas de 2009 novamente foi muito boa, mas também
ajudou a chegar na triste situação atual. Foram cinco jogadores de
frontcourt que chegaram à Westwood vindos
do colegial: os alas Mike
Moser e Tyler
Honeycutt,
os alas-pivôs Brendan
Lane e Reeves
Nelson e
o pivô Anthony
Stover.
Assim como a classe anterior, haviam os que queria jogar a sério e
treinar duro (Moser, Honeycutt e Lane), mas haviam os que queriam festas acima de
tudo. Nelson e Stover se
juntaram a Jerime, Gordon e Morgan neste
último grupo. A reportagem revela diversos problemas nos
treinamentos, com Nelson desrespeitando
companheiros e membros da comissão técnica. Porém, foi outro
garoto-problema, Gordon,
o dispensado em dezembro daquele ano. A campanha da equipe foi
terrível. Com 14 vitórias e 18 derrotas, foi apenas a terceira vez
que os Bruins perderam
mais do que venceram desde a década de 40. Após não ir para o
torneio na temporada, Dragovic, Keefe e Roll se
formaram, deixando apenas os membros das problemáticas classes ’08
e ’09 no elenco.
Após
sofrer com o comportamento de Nelson,
o bom ala Mike
Moser pediu
transferência, e também foi para UNLV –
onde na atual temporada, junto a Stanback,
comanda o time, que está no Top 20 do país. Chegaram mais alguns
jovens promissores: o ala-armador Tyler
Lamb,
os armadores Matt
Carlino e Lazeric
Jones (este
vindo do Junior College) e o pivô Joshua
Smith –
além dos gêmeos Travis e David
Wear,
transferidos de North
Carolina,
mas que teriam de ficar inelegíveis um ano por causa da
transferência. Smith era
o mais promissor de todos, um dos 20 melhores do high school, mas
tinha problemas de peso e motivação – e os têm até
hoje. Carlino logo
deixou o time rumo à BYU,
sofrendo com o bullying de Reeves
Nelson.
Hoje na NBA, Tyler
Honeycutt também
sofreu com o companheiro de equipe, que urinou em suas roupas por
achar que era ele que delatava ao técnico os abusos na equipe – no
breve período em que Howland tentou controlar as coisas por lá.
Reeves durou
os primeiros sete jogos da atual temporada até ser dispensado, após
ser suspenso por duas vezes. Na prévia que fiz aqui da Pac-12,
citava o garrafão formado por ele e Smith como
um dos melhores do país, se não o melhor. Ledo engano. Os problemas
de comportamento fizeram o ala-pivô dar adeus ao programa mais
vitorioso da história, e hoje ele treina para o draft
da NBA. Josh também
não correspondeu e é muito irregular. Os gêmeos Wear são
titulares do garrafão do time – são considerados garotos
exemplares e de família, embora muitos torcedores critiquem seu
estilo de jogo “soft” e as más escolhas de arremesso. Lazeric
Jones e Jerime
Anderson são
titulares da backcourt, com o primeiro sendo o principal cestinha do
time. Anderson chegou
a ser suspenso do time na temporada anterior por roubar uma bolsa no
campus, mas se recuperou e, em seu último ano, ao menos é titular. Lamb joga
na posição 3, mas sem corresponder às expectativas. Stover,
muito criticado na matéria da SI,
é presença constante vinda do banco, mas deve perder espaço com as
acusações. Brendan
Lane,
embora talentoso, pouco joga, não se sabe o porquê. O badalado
novato Norman
Powell já
mostrou talento quando teve tempo, mas também joga menos do que
deveria. Os críticos de Howland o
acusam de privilegiar seus preferidos, em vez de promover uma cultura de merecimento na equipe – já havia sido assim
com Dragovic e Nelson,
e agora com os Wear.
Favorita antes da temporada para ganhar a fraca Pac-12, UCLA se
encontra apenas no meio da tabela da conferência. Como torcedor
dos Bruins,
não posso negar que 2011-12 tem sido muito decepcionante. O
futuro, caso não seja alterado com a bomba lançada pela reportagem,
poderia ser mais promissor. Kyle
Anderson,
segundo melhor jogador da high school, está comprometido a ir para o
time a partir da próxima temporada. O bom ala Jordan
Adams também.
Outro transferido de North
Carolina,
o armador Larry
Drew –
filho do treinador homônimo do Atlanta
Hawks –
está inelegível agora, mas jogará ano que vem. Porém, o maior
alvo da classe de 2013 não deve ir para lá mais: o super-badalado e melhor jogador do colegial Shabazz
Muhammad,
que tinha UCLA como
uma de suas favoritas, pode não ficar elegível pela NCAA por
ter recebido dinheiro de agentes, e está com seu status de amador
contestado.
Tamanhas
polêmicas na universidade que já teve o maior treinador da história
podem fazer Ben
Howland perder
seu emprego. Boa parte da massa de fãs já pediam a saída dele
devido aos maus resultados dos últimos três anos. A Era
Howland realmente
parece estar perto do fim em Los Angeles. O que segurava o treinador
em Westwood era
o futuro com Kyle
Anderson e,
quem sabe, Shabazz e
o pivô Tony
Parker,
outro talentosíssimo alvo da equipe para 2013. Sem Muhammad,
as coisas não são mais tão simples assim. O diretor esportivo Dan
Guerrero também
está com o emprego a perigo, e pode tirar o de Ben como
última tentativa de salvar o seu.
Abuso de álcool e drogas.
Privilégios e proteção aos problemáticos por serem talentosos, em
detrimento dos mais esforçados. Bullying. Duas campanhas negativas
em três anos. Parafraseando o título da história de George
Dohrmann,
tamanha confusão não faz jus ao padrão de qualidade e talento
que Coach
Wooden sempre
pregou na universidade: não é o jeito UCLA de
ser.
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