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Timão na Liberta: um trauma chamado Libertadores


Com o passar dos anos, o fato dos arquirrivais do estado conquistarem o torneio continental só aumentou a obsessão corintiana por também levantar a taça. Mas, por ora, a trajetória do Corinthians na competição apenas acumula vilões e decepções. Em 2012, com o ingresso à inédita final, a história pode ser diferente


Por Diego Henrique de Carvalho
Taboão da Serra/SP

O histórico pênalti perdido por Marcelinho em 2000: retrato do trauma corintiano na Libertadores (Foto: Acervo Folha)


Na cultura do sucesso, da qual o futebol também bebe – tal qual tudo que pertence à lógica capitalista -, é proibido perder. E, por isso, também se tornou cultura do nosso futebol as intermináveis (e deliciosas, além de necessárias) gozações de são-paulinos, palmeirenses e santistas, todos campeões da América, para cima dos corintianos, ainda "virgens" no que diz respeito ao título da famigerada Taça Libertadores.

No entanto, os anti-corintianos estão aflitos neste 2012, pois o popular Timão, de maneira inédita, chegou à final do torneio continental. E num ano em que o Chelsea foi campeão da Liga dos Campeões da Europa, também pela primeira vez, tudo parece conspirar para que a maior torcida de São Paulo, finalmente, conquiste a América. Caso se confirme o hipotético triunfo, o tão desejado caneco, se já não fosse suficiente, será motivo de orgulho ainda maior para a Fiel Torcida. Afinal, chegará à sala de troféus do Parque São Jorge após o Corinthians superar os compatriotas Vasco e Santos, de Neymar, a esperança da nação em 2014, e o copeiro e “papa-Liberta” Boca Juniors, de Juan Román “Carrasco dos Brasileiros na Libertadores” Riquelme.

E neste momento único da história do futebol nacional – que pode ser ainda mais importante em caso de sucesso alvinegro –, o Leitura Esportiva preparou um especial, dividido em três partes (que serão publicadas hoje, amanhã e quarta-feira), que destrinchará a “Saga Corintiana na Libertadores”, desde a primeira participação do clube alvinegro na competição até a sua décima, quando, enfim, chegou à decisão.

1977: o início da Saga Corintiana na Libertadores

A primeira vez em que o Corinthians deu o ar de sua graça numa Taça Libertadores da América foi em 1977 – sem boas recordações, diga-se. Com apenas duas vitórias, um empate e três derrotas (das quais duas foram para o então campeão brasileiro Inter, que tirou o caneco nacional justamente das mãos do clube de Parque São Jorge), os alvinegros foram eliminados logo na fase de grupos, em uma edição que marcou o primeiro troféu do Boca Juniors (que viria a colecionar outros cinco), contra o Cruzeiro, que defendia o título obtido no ano anterior.

1991

Lateral Giba dribla, mas não evita a eliminação (Foto: Uol)
Assim, a palavra “Libertadores” só voltou a fazer parte do dicionário corintiano em 1991, passados 14 anos da fracassada estreia. E nesta oportunidade, deu para chegar à segunda fase. Não mais do que isso.


A saída precoce da competição se deve, em grande parte, ao primeiro dos crucificados corintianos, responsáveis pela histórica marca do clube na Libertadores: as eliminações traumáticas.

O zagueiro Guinei, que havia dado o primeiro título brasileiro ao Corinthians no ano anterior, acabou com as chances da equipe faturar a também inédita Libertadores. Suas falhas culminaram em gols do Boca Juniors nos dois jogos das oitavas de final. A primeira, uma escorregada ainda na partida de ida, em La Bombonera, que terminou em gol de Gabriel Batistuta, é tida como crucial, pois os 3 a 1 contra praticamente acabaram com as chances de revés no embate de volta, no Morumbi.

1996

A nova chance de desbravar a América, então, foi surgir somente depois de cinco anos, com a conquista da Copa do Brasil em 1995. Já mais experiente na competição, o Corinthians liderou seu grupo e, com quatro vitórias, um empate e uma derrota, terminou à frente dos chilenos Universidad do Chile e Universidad Católica e do outro brasileiro da chave, o Botafogo. Desta vez, também conseguiu passar das oitavas, com duas vitórias fáceis sobre o equatoriano Deportivo Espoli.

Contudo, a eliminação veio na fase seguinte. E a exemplo da última vez, com direito a vilão, novamente um zagueiro. No Pacaembu, Alexandre Lopes furou a bola esticada pelo goleiro gremista Danrlei e permitiu que o veloz Paulo Nunes fizesse o segundo dos três gols que decidiram o confronto, mesmo ainda havendo um segundo jogo em Porto Alegre, que terminou com vitória corintiana, mas não suficiente, por 1 a 0. A trinca de tentos sofrida na primeira partida é, até hoje, a maior do Corinthians como mandante na Libertadores.

1999

A próxima chance de ganhar o caneco inédito chegou logo. Ao menos, mais cedo do que das últimas vezes. Em 1998, o Corinthians, muito bem montado por Vanderlei Luxemburgo e agraciado com o talento de Gamarra, Vampeta, Rincón, Ricardinho, Marcelinho Carioca e Edílson, se sagrou, com panca, campeão brasileiro pela segunda vez. Com isso, a vaga na Libertadores estava assegurada no ano seguinte. Mas, agora, com uma peculiaridade ofertada pelo sorteio da competição: o arquirrival Palmeiras, campeão da Copa do Brasil, estava na mesma chave. Sinal de que um novo fracasso estava por vir.

Vampeta perde pênalti em 99 (Foto: Folha)
Porém, não foi dos dois jogos dos grupos, ambos truncados e com uma vitória para cada um dos lados, que ele veio. Quis o destino que os dois rivais, classificados para a próxima fase, se reencontrassem nas quartas de final. O Corinthians havia superado com facilidades o boliviano Jorge Wilstermann. O Palmeiras, em contrapartida, suou para passar do Vasco da Gama. 2 a 0 para o Verdão no primeiro embate. 2 a 0 para o Timão, no segundo. Resultado: disputa nas penalidades máximas! E mais vilões para a história do Corinthians na Libertadores. 


Dinei isolou sua cobrança e Vampeta viu seu chute defendido por Marcos, que, com o feito, passava a ter o prefixo “São” acrescentado ao seu nome. Se não bastasse, o time de Palestra Itália terminaria campeão daquela edição.

2000

Não à toa, a obsessão corintiana pela Libertadores aumentou como nunca: o clube, agora, era o único dos grandes paulistas que não havia conquistado o torneio. Para isso, o Timão, que ao final de 1999 se tornou tricampeão brasileiro e, consequentemente, classificou-se pela primeira vez consecutiva para a copa continental, contava com o investimento pesado da inglesa Hicks, Muse,Tate e Furst para alcançar alguma glória internacional em 2000.

Ela veio no início daquele ano, com o Mundial Interclubes da Fifa, disputado em território nacional. No entanto, o fato de conquistar o mundo antes de conquistar o continente e, ainda por cima, numa final doméstica ante o Vasco da Gama, não impediu as piadas dos adversários que já ostentavam a faixa da Libertadores no peito.

O jeito, então, era ganhar essa taça. Com um super esquadrão, o Corinthians bateu em todo mundo e, como nunca, chegou à semifinal. Mas, se apropriando de parte de uma conhecida frase dos torcedores mexicanos, na qual se referem ao desempenho de sua seleção em Copas do Mundo, "o Timão perdeu como sempre”.

A santa defesa de Marcos no pênalti  batido por Marcelinho (Foto: Folha)
O adversário: mais uma vez o Palmeiras, de São Marcos, em uma decisão por pênaltis. Nesta oportunidade, com um Corinthians infinitamente superior tecnicamente. Nada que eximiu o capitão e ídolo do time, Marcelinho Carioca, de desperdiçar a última cobrança, defendida por Marcos, e eternizar tal momento não apenas como a maior derrota do clube na competição, mas, na perspectiva palmeirense, como uma glória tão importante quanto a própria Libertadores vencida no ano anterior.

2003

A primeira Libertadores no novo século. Qualquer motivo era suficiente para renovar as esperanças de um clube e torcida tão obcecados pelo título do qual seus rivais se gabavam.
Novamente a fase inicial era superada com autoridade e sem sustos: cinco vitórias, apenas uma derrota e liderança absoluta, que só alimentava expectativas no Parque São Jorge.

Fatídica expulsão de Roger em 2003 (Foto Ari Ferreira)
Veio, então, o mata-mata e, por falar em morte, a vítima da vez: o jovem lateral esquerdo Roger, que teve de adicionar o adjetivo “Guerreiro” ao seu nome, virar atacante e se naturalizar polonês para deixar a lista negra da Fiel Torcida e dar a volta por cima no futebol.

O jogador, que substituia o experiente Kléber, por sua vez, "avermelhado" no jogo de ida, no Monumental de Nuñez, ouvia as orientações incendiárias do seu treinador, Geninho, que berrava na beira do gramado para que o lateral “pegasse” o camisa 10 adversário, no confronto de volta, num Morumbi abarrotado por mais de 60 mil fiéis. Na primeira chance de atender ao pedido do chefe, entrou na catimba do malandro Andrés D’Alessandro (atualmente, ídolo colorado), deu-lhe uma botinada e foi mais cedo pro chuveiro. 

A eliminação daquele ano, desde então, é creditada por torcida e imprensa a Roger. Hoje, se sabe por que ele escolheu a alcunha de "Guerreiro".

2006

Nunca a chance foi tão grande. Ao menos, no papel: a injeção de dinheiro oriundo das lavanderias russas, realizada pelo mafioso iraniano Kia Joorabchian, então presidente da nebulosa MSI (Media Sports Investments), perceira do Corinthians no momento, permitiu ao clube montar um elenco galático e abiscoitar, ainda que com contestações por conta da Máfia do Apito (esquema entre árbitros e apostadores cujo principal participante foi o então apitador Edílson Pereira de Carvalho), o tetracampeonato nacional em 2005.


2006 era, portanto, o ano de ser campeão da América. Isso porque o Todo Poderoso gozava de ainda mais poder e era, de fato, o Timão, com "T" maiúsculo. Os argentinos Carlitos Tévez, Javier Mascherano e Sebá Dominguez (um estranho no ninho) e os "brazucas" Nilmar, Gustavo Nery, Roger e Carlos Alberto eram algumas das estrelas dessa nova - e lamentável - era de vacas gordas.

O gol contra de Coelho, em 2006 (Foto: Reuters)
Entretanto, nem tal investimento foi capaz de comprar o presente mais sonhado pelo torcedor corintiano. O novo carrasco? Não, esse já era conhecido: River Plate. E só para mudar a história, o condenado alvinegro à guilhotina também foi um lateral. Agora, destro e não canhoto. E por fazer gol contra e não por ser expulso. O nome dele é Dyego Coelho, revelado no terrão. Saldo: uma quase catástrofe que seria inteira caso se concretizasse a invasão da furiosa massa corintiana, que empurrara o alambrado do Pacaembu, sustentado por escolta militar, para entrar em campo e tirar satisfação com os jogadores.

2010

Depois de Carlitos Tévez fracassar, somente um ídolo igualmente fenomenal poderia tornar o Corinthians campeão da América. 

E foi com a repatriação de Ronaldo realizada pelo então presidente corintiano Andrés Sanchez, em 2009, que o Timão trocou o ostracismo da Série-B, em 2008, pelas glórias da Copa do Brasil e o consequente retorno à Libertadores – com direito ao melhor futebol jogado no país, por uma equipe arquitetada por Mano Menezes (trabalho que rendeu o interesse da CBF em seus serviços) e que tinha o centroavante rechonchudo como a cereja do bolo. 

E como manda o roteiro, o Corinthians fez a melhor campanha da primeira fase e foi tropeçar novamente nas oitavas de final – etapa da competição que mais nocauteou o Alvinegro: com essa, cinco vezes.

O gol com o qual Love calou o Pacaembu (Foto: Nelson Antoine)
Quem esperava por Ronaldo na segunda partida do embate que reunia as maiores torcidas do futebol nacional e definiria uma das vagas na fase seguinte daquela edição de Liberta, viu um outro camisa nove brilhar: Vágner Love, o vilão da vez, que, ainda por cima, tem origens palestrinas. Foi dele o gol que, caprichosamente, passou por debaixo do arqueiro Felipe e calou o Pacaembu. Estava escrito outro triste capítulo no trágico livro da história corintiana na Libertadores.

Contudo, senão o mais trágico ou traumático, mas certamente o mais vexatório dos capítulos ainda estava por vir. O nome dele? Tolima. E mais vilões, é claro...

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