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Quem de fato foi Ayrton Senna?


No aniversário de 18 anos da morte do piloto, tentamos analisar em alguns parágrafos quem foi um dos principais personagens da F-1

Por Leandro Gomes
Rio de Janeiro/ RJ

Ayrton Senna levanta o troféu após vencer pela primeira
vez no Brasil. Foto: Jorge Araújo/Folhapress

Há dezoito anos, Ayrton Senna falecia após um acidente no GP de San Marino, em um dos fins de semana mais trágicos da história da Fórmula 1. Naquele dia, uma grande carreira foi encerrada prematuramente de uma forma até tola, mas que serviu para que a segurança na categoria fosse reforçada — tanto que nenhum piloto morreu nas pistas da F1 após isso. Porém, em um dia como esse, em que se costuma relembrar o grande atleta que foi, fica a pergunta: quem de fato foi Ayrton Senna?

A princípio, a discussão parece inútil, mas a verdade é que é muito difícil dizer com precisão quem ele foi. Isso acontece porque grande parte das pessoas, principalmente os brasileiros, lembram-se do tricampeão como um piloto perfeito, imbatível e infalível — quase um ser superior em relação aos demais. Com isso, os que não toleram essa visão quase “canonizada” do piloto acabam atacando-o excessivamente, chegando até mesmo a rebaixá-lo e a menosprezar os seus feitos. Dessa forma, não se chega nunca a um meio termo, a uma descrição do real Senna e das suas virtudes e de seus defeitos.   

A primeira coisa que se deve ter em mente é que Senna realmente não era infalível e também cometia erros, como qualquer um que passou pela Fórmula 1. A maior prova disso é que o brasileiro muitas vezes perdeu vitórias certas, assim como um lugar no pódio, por querer andar sempre no limite na hora errada. A velocidade e a agressividade realmente eram sua marca registrada, mas Ayrton as vezes exagerava tanto na dose que comprometia suas performances.

Só para citar dois exemplos, em 1988, abandonou o GP de Monaco após se desconcentrar e bater na parte final da prova, quando já deveria apenas estar controlando sua vantagem de um minuto para o segundo colocado; no mesmo ano, retirou-se do GP da Itália após equivocadamente tentar ultrapassar de forma ousada um retardatário a duas voltas do final, quando deveria apenas se preocupar em evitar acidentes. Era nessas horas que lhe faltava a característica fundamental de pilotos mais cerebrais como Nelson Piquet e Alain Prost: inteligência para não querer ir além do que o carro lhe permitia. A partir de 1991, Senna até se mostrou um piloto mais contido e inteligente, mas sem chegar ao nível dos dois pilotos acima.

Outro problema de Senna era a obsessão excessiva pela vitória. Claro que isso o levou a momentos mágicos e a vitórias incríveis na pista, mas também desenvolveu nele algumas características graves. Ayrton, principalmente nas suas primeiras temporadas, se mostrou bastante desleal em algumas disputas, causando até acidentes bem evitáveis simplesmente por não aceitar a perda de uma posição — não custa lembrar que ele era bem criticado por isso no início de carreira, até por pilotos que seriam companheiros de equipe no futuro, como Gerhard Berger. Isso para não falar da busca pelo melhor carro. Se isso se resumisse a querer ajudar a equipe a crescer tudo bem. Porém, não era assim que as coisas funcionavam. 92 e 93, por exemplo, foram tempos bem difíceis para a McLaren, e Senna mostrou uma veia bem “chata” nessa época, correndo totalmente desmotivado no primeiro ano citado e reclamando excessivamente das condições do time no ano seguinte, coisa que deveria ser feita internamente. Não a toa, sempre louvou o “carro de outro planeta” da Williams e sempre tentou cavar uma vaga entre os ingleses de Grove.

Porém, uma coisa não se pode negar: se Senna não tivesse inúmeras virtudes, ele não teria chegado tão longe na Fórmula 1, sendo praticamente o grande ídolo da atual geração junto com Michael Schumacher. E se aqui foi falado sobre os erros que cometia quando mostrava uma ousadia excessiva, também deve ser lembrado que isso também deu certo em várias ocasiões. Ele, de fato, não tinha medo de buscar o melhor resultado, custe o que custasse. Ayrton sempre mostrou uma agressividade e velocidade impressionante, e foi isso que lhe permitiu belíssimos resultados — alguns até aparentemente impossíveis — tanto com uma modesta Toleman quanto com a grandiosa McLaren, onde conquistou seus três títulos.

Seu incrível talento para voltas rápidas nos treinos também era impressionante. Senna talvez foi o melhor piloto de treinos da história da F1, pois sempre conseguiu se concentrar da melhor forma possível para tirar tudo carro em uma volta, fazer a tomada perfeita e conseguir a pole. Não a toa, esse foi um dos recordes que Michael Schumacher mais teve dificuldade para bater — tanto que o alemão, com bem mais tempo de categoria e tendo por muito tempo um foguete que o brasileiro não teve, conquistou 66 poles, só uma a mais que Ayrton. Senna poderia até ser meio desconcentrado nas provas, ao contrário dos rivais Prost e Piquet, mas era perfeito nisso na qualificação. Com a primeira posição no grid em mãos, já tinha meio passo andado para a vitória.

No entanto, sua maior característica era mesmo pilotar na chuva. Sua capacidade de dominar seu equipamento em situações tão adversas era impressionante.  Não acredito que houve alguém melhor do que ele em pista molhada do que ele. Sua primeira vitória, no GP de Portugal de 85, quando quase deu uma volta até mesmo no segundo colocado, e a magnífica atuação em Donignton em 93, na clássica corrida em que pulou de quinto para primeiro na primeira volta, são alguns exemplos disso.

Senna, então, era isso. Um piloto que não era perfeito, mas que se tornou um dos melhores da Fórmula 1. Um piloto suscetível a erros, mas que não tinha medo de ser agressivo, pois sabia que isso era muito necessário para vencer. Não era tão cerebral como um Prost, não era tão inteligente como um Piquet e nem tinha a classe quase insuperável de um Jackie Stewart, mas tinha arrojo e ousadia maior do que a de todos estes, além de não perder feio para ninguém em atributos em que fosse inferior a outros. Isso para não falar da incrível capacidade de tirar coelhos da cartola em momentos em que isso parecia impossível, proporcionando momentos dos mais mágicos da Fórmula 1. Não a toa está no hall dos grandes gênios da Fórmula 1, posto que certamente também teria alcançado se não tivesse morrido tão cedo.

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