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Entrevista - René Simões



René Simões já foi técnico de vários clubes e várias seleções, e hoje ocupa um importante cargo nas categorias de base do São Paulo.

Por André Peixoto
Belo Horizonte/MG
Foto: Edu Morais/R7
O personagem entrevistado dessa semana pelo Leitura Esportiva é um homem com muita experiência no meio do futebol: René Simões. Aos 59 anos, ele já passou por muitos clubes dirigindo o time profissional e as categorias de base. Teve algumas experiências dirigindo clubes do exterior. Na Olimpíada de 2004, conquistou o vice-campeonato de futebol com o time feminino do Brasil. Passou por muitas seleções, mas ficou marcado, principalmente, por levar a Seleção da Jamaica para a Copa do Mundo da França, em 1998.

Recentemente, René Simões foi contratado pelo São Paulo para ser diretor técnico das categorias de base do clube paulista. Procurado pelo Leitura Esportiva, o experiente treinador falou da atual fase na carreira, além da sua vida no meio do esporte. Confira a excelente entrevista com esse grande entendedor do futebol.

- (Pablo Melo) Qual foi o principal motivo para essa mudança de função passando de técnico para diretor? Você pretende seguir nesta carreira e largar a de técnico?

- René - Não deixei de ser técnico, sou formado como professor e técnico de futebol, eternamente serei. No momento ocupo outro andar no edifício chamado futebol, embora o desafio seja grande acho que cobram os alugueis de maneira mais suave. Eu já exerci esse cargo na Jamaica, Trinidad e Tobago e Irã. Não é novo e me sinto preparado para desempenhá-lo. Neste cargo poderei ajudar o futebol brasileiro mais diretamente, na sua construção. Fiquei três meses me recuperando da operação nos pés e vi jogos, todos os que quis, não os que era obrigado a ver por causa de minha equipe. Nesta situação eu estava liberado para ver o jogo e analisá-lo livremente e não buscando maneiras de ganhar determinado adversário no próximo encontro. Minha visão ficou mais ampla. Nosso futebol nunca teve tanto choque de cabeça, nunca antes na história deste país, tivemos tantos jogadores jogando com tocas. Nossos campos, antes carecas nos meio de campos, agora só são gastos nas intermediárias.

Nossos zagueiros, salvo algumas exceções, são rebatedores. Entramos em campo para destruir e não construir. Espero poder traçar uma linha de filosofia que vá do sub-13 ao profissional. Leva tempo, talvez esteja sendo utópico, mas como o São Paulo sempre esteve na vanguarda, estou acreditando nos seis anos que combinamos inicialmente. Não tenho notícia de outro clube que tenha um diretor técnico geral para o futebol.

- (Lívio Manzano) Após o São Paulo ser eliminado na Taça São Paulo de Futebol Junior, o Presidente Juvenal Juvêncio prometeu uma reformulação na base e contratou você e o ex-goleiro Carlos. Qual é a proposta que você, em conjunto com a diretoria, tem para reformular a base?

- René -
Falar em reformulação parece que tudo estava errado, não é verdade. Minha contratação é para normatizar, monitorar e executar uma única filosofia de jogo para todas as categorias. Vamos iniciar pela base, talvez uns dois anos e depois veremos como será essa ligação com o profissional.

- (Vinícius Lorenssete de Brino) No Atlético-GO, você disse que a ausência de um psicólogo e de um assistente social dificultaram seu trabalho, o tornando o mais difícil de sua carreira. O São Paulo, clube que é apontado como exemplo em organização e estrutura, não possui nenhum profissional do tipo, tanto na categoria principal quanto na base, no CFA de Cotia. Não seria a hora dos clubes investirem nesse tipo de profissional? Você planeja algo do tipo para as categorias de base do São Paulo?
CFA Cotia

- René -
O São Paulo tem um núcleo com psicólogos, pedagogos, professores, assistência social. Preciso ser o elo entre esta teoria e a minha prática em usar essas disciplinas, até porque esta é uma área que devoro livros e tenho grande interesse e respeito.

- (Wilson Hebert) O que você acredita que precisa ser mudado ou renovado no trabalho de formação dos atletas para que o Brasil volte a ser apontado como referência técnica? Você acha que os jovens carecem de um trabalho tático mais profundo nas categorias de base?

- René - O maior problema nas categorias de base é que "quem tem que aprender (jogadores) são ensinados por quem está aprendendo ou testando. Penso que minha experiência de mais 40 anos pode ser de grande valia, para que os ensaios e erros sejam minimizados. As categorias de base sempre foram vistas como despesas e nunca como investimento. A qualidade das instalações e projetos do São Paulo me fazem acreditar, neste início, que este pensamento seja diferente.

- (Wilson Hebert) Há a possibilidade de implantarmos uma filosofia de valorização da posse de bola, parecida com a do Barcelona, no futebol brasileiro?

- René - Nos 80, 90 quando saía para dar palestras e cursos no exterior tinha que responder a pergunta: como explicar a filosofia de jogo do Brasil? Sempre usei a tourada (fazendo a ressalva que não sou a favor aos maus tratos aos animais). Na tourada o objetivo é matar o touro, mas ninguém vai com revólver para arena e dá um tiro no touro. O bonito é a dança entre o touro e o toureiro. Esse era o futebol brasileiro não bastava fazer gols e ganhar o jogo, precisava haver coisas bonitas, passes, domínios, bola para um lado e outro. Pé em pé, controlar o adversário.

Deixamos de fazer isso e vamos de bazuca para ganhar o jogo logo. Podemos e devemos voltar as origens, mas posse de bola com objetivo de desequilibrar o adversário, fazer gols e ganhar os jogos.

- (Wilson Hebert) Você concorda que hoje o futebol brasileiro está formando menos jogadores dotados de habilidade como o Neymar? Se sim, acredita que isso está diretamente ligado a formação do jogador nas categorias de base? Como reverter esse panorama?

- René - Existe um estudo, não confirmei ainda, que diz que na base, os jogadores nascidos no primeiro semestre prevalecem. Para vocês entenderem: um jogador nascido em Janeiro de 92 vai maturar antes (quase certo) que um jogador nascido em dezembro de 92, escolhe-se por esta maturação. O grande contraditório desta pesquisa é que a maioria dos jogadores das equipes profissionais são do segundo semestre (tenho que confirmar). Manda-se embora, ele explode em outro clube e vamos contratá-lo a peso de ouro. Técnica, inteligência, capacidade de solucionar problemas sob pressão, precisão ser os pontos avaliados a frente dos aspectos físicos. Esta é uma possibilidade. A outra é a necessidade de títulos. Claro que ganhar é importante e precisa ser objetivado até para colocar adrenalina na corrente sangüínea do jogar, mas este binômio, competitividade e formação precisam caminhar com coerência.

- (André Peixoto) Como você vê o fracasso de grandes equipes do futebol brasileiro - que possuem uma boa estrutura - em campeonatos de base como a Copa São Paulo de Futebol Junior, por exemplo? Você acredita que a pressão por títulos exercida sobre os garotos desde a base é muito grande? Se sim, a culpa é da torcida, da imprensa, dos dirigentes, da comissão técnica ou todos temos culpa?

- René - A pressão em cima dos jogadores tem que existir em doses corretas para que aprendam e devolvam suas inteligências emocionais, o grande segredo dos campeões. Quanto mais pressão numa partida mais eles fazem a diferença. O problema da cobrança de títulos afeta as escolhas pela comissão técnica, que opta por jogadores que podem dar o título em detrimento daqueles que poderão jogar na equipe profissional. Novamente é importante dizer que o equilíbrio entre competitividade e formação não podem ser esquecidos.

- (Wilson Hebert) Na sua opinião, quais são os jovens jogadores de hoje, além de Neymar, Ganso e Damião, que podem ser bastante úteis em 2014?

- René -
Muito difícil fazer prognóstico, mas temos o Lucas, Wellington Nem, Dedé, e se colocar cabeça no lugar apostaria no Jobson.

- (Wilson Hebert) Um costume que está cada vez mais enraizado no jogador brasileiro, principalmente o jovem, é a cultura do "cai-cai". O que você pensa sobre isso? É uma característica legítima ou um mal a ser combatido?

- René -
Um mal a ser combatido, tudo que tenta burlar as regras de jogo e de vida devem ser combatidos com veemência.

- (Vinícius Lorenssete de Brino)
Quando Neymar despontou como craque, você chegou a dizer que poderíamos estar criando um monstro. Você acha que o Neymar evoluiu na parte disciplinar? E na sua opinião, é questão de tempo (e de transferência pra Europa) pra ele se tornar o melhor do mundo ou ele ainda precisa evoluir em alguma coisa? Se ele precisa evoluir, quais seriam os pontos?

- René - Ele vem amadurecendo a cada dia, mês e ano. O belo da vida é que nunca estamos prontos, disse um poeta brasileiro. O Neymar ainda vai evoluir muito. Alternância de ritmo vai fazê-lo mais genial.

- (Luís Felipe Barreiros) Em sua opinião, os clubes brasileiros se preocupam também com a formação do ser-humano além de um novo craque de futebol? Você acha que a disciplina precisa ter mais espaço e importância na formação de atletas?

- René - De dentro de um homem, pode-se tirar um grande jogador de futebol, nem sempre de dentro de um jogador se tira um grande homem. O trabalho integral tem que ser o objetivo das equipes de formação. Levá-los ao comprometimento sustentável tem que ser a meta.

- (Wilson Hebert) Você acha que os clubes brasileiros estão prontos para trabalhar com jogadores que possuem problemas como do Jobson, hoje no Botafogo, mas que foi seu jogador no Bahia?

- René - É preciso preocupar-se lá embaixo, não permitir que cheguem no profissional com problemas, mas quando eles aparecerem estar preparados para lidar com eles.

"A pressão em cima dos jogadores tem que existir em doses corretas para que aprendam e devolvam suas inteligências emocionais, o grande segredo dos campeões."

- (Eduardo Tavares Junior) Recentemente, Muricy Ramalho disse que para um técnico como Josep Guardiola ser "Nota 10", ele precisaria treinar um time no Brasil. Além dele, outros técnicos brasileiros deram a entender que concordavam com esta afirmação. Qual a sua opinião sobre os desafios necessários para um técnico ser o melhor do mundo? Pra você, o Guardiola é o melhor do mundo?

- René -
Acho que cada um tem sua liberdade de expressão. Pelo que tenho visto a cada jogo e pude ver in loco no Barcelona, acho que hoje ele é o melhor. Ele saberia trabalhar no Brasil.

- (Caio Spechoto) Como você avalia a evolução do futebol feminino depois de sua passagem pela seleção nos Jogos de Atenas?

- René - É uma maldade como tratam o futebol feminino. Não acredito que ele possa crescer seguindo os passos dos clubes de futebol masculino. É preciso copiar o modelo de crescimento do voleibol. As chances são iguais as das outras olimpíadas, a preparação é sempre ruim, só se lembram delas quando perdem os jogos finais. Ninguém sabe que não tiveram preparação adequada.

- (Caio Spechoto) Nos últimos anos você trabalhou em mercados periféricos, como a Jamaica. Como é ser treinador num lugar que não tem o futebol como principal esporte?

- René - Foi excelente o trabalho na Jamaica, em seis anos classificamos todas as seleções para os campeonatos mundiais de suas categorias, sub 17, sub 20 e principal. Esse trabalho foi gratificante, mudamos o gosto do país, antes era o país do cricket e aí virou do futebol.

- (Vinícius Lorenssete de Brino) Você ainda tem algum sonho a ser realizado no futebol, como dirigir a seleção brasileira masculina principal, ou trabalhar em um grande clube europeu?

- René - Sonho todos os dias, mas ando e caminho dentro do espaço que possuo, o sonho é fazer do São Paulo o maior e melhor clube de futebol do planeta.

O Leitura Esportiva agradece ao René pela atenção e disponibilidade e desejamos a ele muita sorte nessa nova fase da vida.

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