A Taça Guanabara é um perigo para os grandes cariocas

Final simbólica pode acelerar análises que precisam ser feitas lá na frente. Precisamos ter cuidado...

Por Wilson Hebert

Rio de Janeiro/RJ

Jogadores do Flu comemoram gol contra o Vasco.
Foto: Lancenet

A Taça Guanabara já se caracterizou como título. Por exemplo, em 1993 o Fluminense alcançou pela última vez essa “conquista”. Naquela época era conquista sem aspas, hoje não mais. E o motivo é simples: se o título estadual está cada vez mais defasado, cada vez valendo menos, sem importância, com a existência da competição servindo apenas pra rechear a temporada, por que vamos considerar uma simbólica conquista da metade de um estadual como alguma coisa?

Portanto, o Flu não foi campeão pra valer, nem o Vasco conquistou mais um vice. É claro que essa “brincadeira” pode movimentar a vida dos torcedores, apimentar as zoações nessa segunda-feira em ambientes de escola e de trabalho. Mas deve parar por aí. O romantismo só cabe ao torcedor.

Este blogueiro que vos fala, por mais esforço que o faça, só consegue ver apenas uma utilidade na “conquista” da Taça Guanabara, que é o de não precisar se preocupar tanto com outro troféu simbólico: o da Taça Rio.

O jogo em si, por ser um clássico com o enfrentamento de dois times grandes, valeu como um verdadeiro teste. Lógico que não vamos exagerar na outra extremidade dizendo que se tratou apenas de um amistoso de luxo. Não. Na partida pudemos ver que a linha de três armadores que encostam no Fred, montada pelo Abel Braga, funcionou e pode funcionar muito bem ao longo da temporada.

Wellington Nem e Thiago Neves com velocidade explorada pelos flancos e Deco organizando tudo centralizado, dão um grandioso poder de movimentação e, principalmente, de possa de bola, que sempre será uma solução muito mais eficiente do que a superlotação do campo com volantes.  

O Barcelona de Pep Guardiola nos ensina atualmente que ter a bola é a melhor forma de impedir o sucesso ofensivo do adversário.

Vimos também que com esse setor ofensivo - não apenas de luxo, mas bem estruturado - oferece a possibilidade dos laterais Bruno (que foi muito bem na partida) e Carlinhos preencherem os espaços atrás, auxiliando o trabalho de iniciação das jogadas lá na defesa.

Mas, óbvio, essa vitória não significa que o Tricolor das Laranjeiras esteja pronto. Até a semana passada notícias davam conta que tinha diretor do Flu pensando em demitir o Abel e até conversando com o Renato Gaúcho. O que é absurdo. Da mesma forma que a temporada ainda está no início e consequentemente o que se viu foi pouquíssimo para concluir que o Abel já tenha que cair fora, também se pode dizer que ainda vimos pouco para dizer que já está pronto.

Aliás, o problema não será falta de teste, já que após essa grande partida contra o Vasco, o próximo osso duro de roer será no dia sete de março, no sempre complicado jogo contra o Boca Jrs. Na Bombonera. E fica a dúvida se o Abelão manterá sua linha de três armadores...

E o pouco tempo também vale para o Vasco. Não dá pra jogar o trabalho de Cristóvão no lixo pelo fato do Gigante da Colina ter, reconhecidamente, tomado um banho de bola neste último domingo.

Porém, o Dedé atuando de centroavante no segundo tempo retrata que o elenco pode não estar tão bem servido de atacante. Vale a menção de que Alecsandro foi bastante omisso na partida, assim como Diego Souza. Os únicos jogadores do setor ofensivo que tiveram atuação satisfatória pelos vascaínos foram Barbio e Juninho.

Portanto, sem qualquer valor de título, os turnos estaduais devem ser usados dessa forma: extensão de pré-temporada. E qualquer cheiro de sucesso ou de insucesso, não deve condicionar nenhuma decisão drástica, apenas direcionar a necessidade de alguns ajustes ou a permanência no caminho que se mostrar como certo. Até porque, cá pra nós, nenhum dos quatro grandes cariocas está fazendo um papel trágico nesse início de ano, então dá pra avaliar as primeiras semanas da temporada com calma, claro, prestando atenção na Libertadores e na Copa do Brasil...