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À Bundesliga, um brinde!


Futebol alemão abre suas portas para novos mercados alternativos e colhe qualidade, eficiência e acima de tudo, valorização.


Por Luiz Guilherme de Almeida
Belo Horizonte - MG


Foto: pele2.files.wordpress.com
Confesso que é com empolgação que espero por cada rodada da Bundesliga assim que a última se vai. O Campeonato Alemão tem despertado em mim um  misto de sensações – espero que compartilhemos das mesmas, todo bom amante do futebol -   nas duas últimas temporadas, em especial. Sensações boas diga-se de passagem. Isso porque, é de uma primazia cativante a forma com que o futebol tem sido trabalhado pelas bandas de Gerd Müller, em todos os aspectos. A começar pelo dentro das quatro linhas, exponenciado na fortíssima e renovada seleção alemã, que considero a melhor do futebol mundial na atualidade. Incluo na lista, o futebol de alta competitividade – e qualidade - praticado em solo germânico. Na atual edição, são quatro equipes brigando pela Salva de Prata, restando 9 rodadas para o término do certame.

Porém o que mais me cativa no futebol alemão, são os pequenos detalhes somados aos maiores que a liga apresenta de curioso a cada ano que cresce.
Sim, falarei das impressionantes médias de público que a Alemanha nos apresenta a cada final de semana. Mas aliado à isso, quero trazer um debate pertinente, fruto de uma política que vem sendo bem conduzida pelos clubes germânicos e que tem trago um benefício enorme aos mesmos. O quanto a Bundesliga abriu suas portas aos mercados alternativos, até então prática tímida em ligas maiores e única solução em outras menores.

Desde a reunificação em 1991-1992, a Bundesliga voltou a ser centro estável de futebol. Ao longo desse período, viu-se um refortalecimento da marca alemã, a reestruturação de clubes e uma melhora significativa na qualidade do futebol jogado por lá também. Todo esse cenário nos remete aos dias de hoje. Essa busca por novos mercados a serem investidos faz do futebol alemão um desbravador. De olho em formas alternativas, rentáveis e eficientes de melhorar seu futebol, a Alemanha abre suas portas à esses novos mercados. Entretanto, que fiquemos claros quanto à essa expressão “novos mercados”. Quero definir com isso, mercados que nunca antes haviam sido tão explorados pelos clubes europeus. A busca por jogadores em certos centros da África, Leste Europeu  e América do Sul, por exemplo, sempre foi feita. Logo, minha definição não engloba essas terras. Engloba sim uma nova visão do mercado escandinavo e  asiático, como um novo redescobrimento.

A começar pela Escandinávia. Ao alcance dos maiores centros europeus dada a proximidade, essa região tem contribuido com o fortalecimento do futebol alemão de forma interessante. Isso porque existe uma diferença entre os jogadores pinçados por lá do que outros vindos da Ásia por exemplo. O fato de estarem  mais próximos das competições européias ajuda a fomentar as características dos jogadores vindo de lá. É como se eles já estivessem acostumados, dada as partidas, pré-temporadas e competições que os clubes de Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia disputam contra equipes maiores da Europa . Dessa forma, esses jogadores apresentam rápida adaptação ao forte futebol alemão. Exemplo são  jogadores como Leon  Jessen, que veio do FC Midtjylland – DEN para o FC Kaiserslautern e hoje é um dos poucos destaques da equipe. Em situação oposta na tabela, temos dois jogadores bastante interessantes, reflexo desse bom aproveitamento alemão de mercados alternativos. O primeiro é Mohammed Abdellaoue. Natural de Oslo, capital norueguesa, o jogador foi adquirido pelo Hannover 96 junto ao Valerenga – NOR em 2010. Desde então, a aposta se mostrou acertada. Principal nome da equipe, ele comanda o Hannover na campanha desse ano com 11 gols em 21 jogos e já vem chamando atenção de clubes maiores, como o Schalke 04. É justamente em Gelsenkirchen que está outro grande exemplo atual desse mercado escandinavo provando-se rentável e de boa saída aos clubes da Alemanha. Teemu Pukki é a grata surpresa de uma equipe que faz boa campanha, ainda na briga pelo título e com um detalhe. Com uma concorrência forte do meio-campo pra frente, onde joga o finlandês. Pukki chegou do HJK Helsinki – FIN, no início de 2011 e em pouco mais de um ano já se adaptou rápidamente ao futebol alemão, tanto que é opção constante em uma equipe que conta com  nomes como Huntelaar, Raúl e Farfán. Vem fazendo bonito nessa temporada, com 10 gols e 3 assistências em 21 jogos, sendo apenas 11 deles como titular.


Pukki é expoente do eficiente mercado nórdico na Bundesliga
Foto: sportbild.bild.de
Essa entrada de jogadores escandinavos na Bundesliga pode ser analisa pela visão técnica também. Ligas escadinavas apresentam , em média,  cerca de  40% dos seus jogadores formados pelas categorias de base de seus clubes, segundo último estudo realizado pelo CIES (Centro Internacional de Estudos Esportivos).  Número muito alto, se considerarmos a intensa globalização que o futebol mundial vive hoje. Isso implica que tais jogadores passam  por uma formação técnica contínua e são postos à prova em seus próprios campeonatos nacionais,  antes e ao invés de perambularem por clubes e países globo afora. O raciocínio alemão é simples. Observar e investir em jogadores que são bem formados, de fácil adaptação, preparados em competições niveladas entre eles,  são aqueles que se destacam  e tornam-se apostas válidas. Daí é colocar para jogar.

Entretanto, é da Ásia que o fenômeno vem  como um tufão. Notável é a evolução do futebol asiático desde a Copa do Mundo de 2002  realizada por lá. Nações como Japão e Coréia do Sul desenvolveram-se, esportivamente falando, à passos larguíssimos, a ponto de hoje não serem mais vistas como meras participantes nas competições, vide as últimas edições das copas. Mas o que mais chama atenção é a qualidade com que mais e mais jogadores provenientes desse centro tem apresentado em gramados europeus, em especial germânicos. Existem aqueles que defendem a tese de que isso é fruto de um intercâmbio esportivo  que o mundo tem feito com esses países. Eu não discordo, mas faço adendos. Com profissionais de todas as áreas do âmbito esportivo tendo maiores oportunidades de realizarem seus trabalhos em nações asiáticas, as mesmas passam a evoluir com essa troca. Aprendem  mais, com o olhar e batuta eficiente de europeus e sulamericanos para instruí-los. E dessa forma, eles retribuem com profissionais de bastante talento, com a formação não somente embasada nas práticas dos nativos, mas sim com uma pitada aqui e acolá de outras escolas. Reflexo disso, temos o Japão como maior exemplo. Hoje são cerca de 10 atletas nipônicos em clubes da Bundesliga, atuando constantemente. Daí você pensa do outro lado da tela, “poxa, mas são apenas 10, em 18 clubes...”. Pois é, mas reflita um pouco mais sobre o quanto isso, a cerca de 10 anos era tarefa árdua de se garimpar. Disse que não discordo totalmente, pois acho que os asiáticos tem sim o potencial inerente, aquele que mesmo com europeu ou não para ajudar, está lá, é nato. Talvez eles levassem um pouco mais de tempo para esse “boom” todo acontecer, mas acredito que ele aconteceria de qualquer forma. E ainda espero a Ásia cada dia mais forte.

Rápida adaptação, técnica e talento. Kagawa é destaque.
Foto:cdn.worldcupblog.org
Jogadores como Makoto Hasebe (Wolfsburg), Shinji Okazaki (Stuttgart) e Atsuto Uchida (Schalke 04) - todos japoneses-  representam  alguns dos nomes fortes em seus clubes, jogam  como titulares e são importantes para as campanhas de suas equipes. Ainda temos Takashi Usami (Bayern Munchen) , contratado para o futuro, mas que já vem  recebendo minutos na Bundesliga aos poucos. Mas nenhum outro jogador representa mais o futebol japonês na terra da cerveja que Shinji Kagawa, meia do Borussia Dortmund. Dotado de um talento diferenciado, Kagawa chegou  à Dortmund e trouxe com ele um verdadeiro tsunami. Isso porque sua adaptação foi tão rápida, tão eficiente, que logo em sua primeira temporada já assumiu a camisa de titular e comandou, junto com Nuri Sahin ( hoje no Real Madrid)  e Mario Gotze, um meio campo leve, veloz e muito habilidoso que culminou com a conquista da Salva de Prata na temporada 2010-2011. Kagawa é um jogador veloz, visão de jogo apurada, passes técnicos e precisos. São 32 jogos na temporada inteira, saldo de 11 gols e 9 assistências, além  de ser o motor da equipe. Isso demonstra ambos os lados da tese que citei acima. Antes de desembarcar na Bundesliga, Kagawa jogava no Cerezo Ozaka – JAP e teve profissionais brasileiros, portugueses e claro, olheiros alemães ajudando-lhe a desenvolver seu futebol. Mas o talento nato sempre esteve ali.

Ressalva feita também a outros mercados observados pelos times da Alemanha. O goleiro australiano Mitchell Langerak (Borussia Dortmund)  é visto como o futuro dono da número 1 por lá. Sandro Wieser, de Liechtenstein, vindo do Basel -SUI joga com algum destaque na fraca campanha do Hoffenhein junto com o atacante sul-africano Knowledge Musona, formado no Kaisers Chief, de seu país. Almog Cohen,  israelense vindo do Maccabi Netanya faz o que pode  para ajudar o meio-campo do Nuremberg  a manter a boa temporada. Todos esses exemplos e outros mais não citados, reafirmam o potencial de investimento da Bundesliga em mercados alternativos. Mas como dizemos aqui em Minas, ninguém dá ponto sem nó.


Estupendas médias de público fortalecem a Bundesliga.
Foto: http://www.football-pictures.net/
Esse empenho dos clubes da Bundesliga em desbravar novos mercados é explicado em números. Ou melhor, em cifras. Segundo dados do site transfermarkt.de, apenas Bayern de Munique, Wolfsburg e Leverkusen gastaram mais de €6 millhões em contratações. O restante dos clubes investiram de forma regrada e pontual, buscando em outros mercados não convencionais suas prioridades. Jogadores que são contratados por preços até irrisórios, adquirem grande valorização em gramados alemães e quase triplicam seus valores de mercado. Kagawa e Pukki por exemplo. O japonês custou aos cofres do Borussia Dortmund €2.5 milhões em 2010. Hoje, ele é avaliado em €17.5 milhões. Já o finlandês veio de seu antigo clube por modestos €250 mil e em apenas um ano já vale €3 milhões. Valorizações assim prova ainda mais os investimentos germânicos em rotas diferentes. Exemplos refletem boas campanhas como as de Borussia Monchengladbach e Hannover 96. Os clubes apostam em gastar menos e ter eficiência em campo, o que gera retorno financeiro, seja em futuras negociações, fortalecimento da marca, o que acaba atraindo cada vez mais o torcedor. Esse, fator fundamental para a estabilidade financeira dos clubes alemães na atualidade. Imaginem um ciclo, amigos leitores. O clube gasta menos em mercados mais baratos e promissores, mas com qualidade, o que reflete em campo com boas campanhas. Boas campanhas atraem tanto retorno financeiro, quanto os torcedores, que acabam por investir no clube, gerando mais fundos em caixa.

As médias de público na Alemanha são exemplo para todo o mundo. Clubes como ambos os Borussias, Bayern de Munique, Schalke 04 e até os pequenos Augsburg e Mainz apresentam mais de 96% de seus jogos com lotação máxima. O Herta Berlin é o clube que apresenta menor média, 72%. O que para padrões alemães representa uma queda, tal número aqui no Brasil, por exemplo, é mera utopia. Todo esse contingente financia cada vez mais os clubes, que aplicam seus recursos inteligentemente. Para fechar, outro reflexo é de que a Bundesliga hoje possui 18 clubes, totalizando 519 jogadores, que equivalem a quase €2 bilhões somados, o que a coloca entre as três melhores e mais valiosas ligas nacionais de toda a Europa. Um avanço considerável para todo o futebol alemão, que parece absorver a cada temporada os seus próprios bons exemplos e práticas, para melhorá-los na temporada seguinte.

O potencial da Bundesliga é enorme. Clubes e Federação parecem ter finalmente achado uma fórmula bastante eficaz de manter o equilibrio financeiro e a evolução dentro e fora de campo. Apostando em mercados alternativos e colhendo sucessos, o futebol germânico apresenta ao mundo do futebol toda a sua estrutura e organização adquirida ao longo desses anos. E o mais positivo de tudo isso é que a perspectiva para o futuro é cada vez mais animadora, pois na toada que segue, o futebol por lá não apresenta motivos para fraquejar em suas práticas.
Um belo exemplo de estruturação e organização, investimento consciente e eficaz que deveria ser copiado por todos os cantos em que se faz futebol. À Bundesliga, um brinde!

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