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Guia CBF - parte 2: O giro da roda - Desempenho em xeque



Na gestão Ricardo Teixeira, o Brasil consolidou-se como maior vencedor de Copas e viu o futebol se transformar em um grande e lucrativo negócio.

por Bruno Cassali

Primeira entrevista coletiva de Ricardo Teixeira após eleito presidente
da CBF. Foto: arquivo Folha.
Imagine uma roda. Fixe um ponto nela. Digamos que esse ponto chegou ao topo da roda por duas vezes, mas depois da segunda volta nunca mais saiu do lugar, como se tivesse se desprendido da rotação. Assim estava Ricardo Teixeira ao deixar a Confederação Brasileira de Futebol em 2012: fora do eixo.

Em 16 de janeiro de 1989 começava o maior e mais rentável reinado no trono do futebol nacional. "É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade", dizia o anúncio da Folha de São Paulo em 1987, em campanha anti-ditadura. Mas, deixemos as coisas bem claras: foi bom nos momentos bons, mas foi bem ruim nas horas ruins.

Ricardo Terra Teixeira assumiu a CBF nessa data, derrotando o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Nabi Abi Chedid - hoje, ilustre nome do estádio do Bragantino em Bragança Paulista. Entrou em lugar de Octávio Pinto Guimarães em uma entidade à beira da falência financeira, sem credibilidade com o governo e, o pior, sem resultados condizentes com a paixão nacional que é o futebol. O Brasileirão não tinha fórmula definida, não tinha sistema de rebaixamento organizado e o volume de dinheiro envolvido nos négocios da bola era infinitamente menor. A seleção vivia um jejum de quase duas décadas sem títulos e começava a sofrer com o êxodo de jogadores para o futebol europeu.

Se o cenário não era dos mais favoráveis, diz a experiência que a melhor saída para esses casos é organizar a casa. E Teixeira até começou no caminho certo, fazendo o ponto da roda subir em direção ao topo. Buscando novas fontes de renda, fechou acordos de patrocínio para o escrete nacional. Em campo, começou vencendo a Copa América em casa, após lacuna de 40 anos sem a taça continental.

Mas a primeira crise começou junto com a "marketização" do futebol: em foto oficial, os atletas tamparam as marcas de patrocínio da seleção por não estarem recebendo das empresas. Na Copa de 1990, após uma primeira fase razoável, o cruzamento com a Argentina logo de cara nos mata-matas matou o time de Sebastião Lazaroni. Caniggia e Maradona mandaram o defensor do "overlaping" e dos três zagueiros pra casa, abrindo espaço para a primeira invenção no comando técnico: em sua primeira experiência fora das quatro linhas, Paulo Roberto Falcão seria o novo manager da seleção.

Não durou muito o reinado do Rei de Roma no "país do futebol". Em meio a um processo de renovação da seleção, com resultados nada satisfatórios, Falcão cedeu o lugar no trono para Carlos Alberto Parreira, ainda antes da defesa do título continental em 1991. O vice na Copa América não impediu que Teixeira fosse reeleito no ano seguinte, mas fez o caminho do nosso ponto na roda se estagnar.

A preparação para a Copa nos EUA foi a mais turbulenta possível. Veio a primeira derrota em que seria a solução, Romário, não tinha o comportamento ideal fora dos gramados. Mas quando a vaca tá indo pro brejo, amigo, não tem quem segure. Romário veio para um único jogo, tirou os brasileiros do sufoco no Maracanã lotado e carimbou a passagem de Teixeira e seus blue caps para o paraíso. Não à Copa do Mundo, mas sim as compras nos Estados Unidos.

Foto: arquivo Folha.
O escândalo das compras foi um simples exercício jornalístico de um repórter de Geral. Como todos jornalistas esportivos tinham acabado sua missão com a vitória do Brasil nos pênaltis sobre a Itália no dia anterior, este iluminado ser foi acompanhar a colocação da bagagem da seleção no transporte para o aeroporto. Ali, foi surpreendido pela quantidade absurda de eletrodomésticos e outros itens alheios ao futebol - como chopeiras para o estabelecimento comercial do presidente da entidade. As 17 toneladas de bagagem extra deveriam render ao governo cerca de US$1 milhão. Somente R$50 mil entraram nos cofres públicos, afinal... quem precisa pagar impostos, não é?

Parreira saiu por cima do comando do escrete nacional, deixou o ponto da roda lá no alto e entregou o comando para seu assistente técnino, Mário Jorge Lobo Zagallo. O velho Lobo manteve o Brasil como primeiro do ranking, mas na hora da decisão viu o peso da responsabilidade cair em cima de um garoto de 21 anos. Era óbvio que ia dar algo errado, ainda mais jogando contra os donos da casa. A França ficou com a Copa de 1998, Zagallo ficou na fila do Sine e Ricardo Teixeira começava a transformar a CBF em uma empresa pra lá de lucrativa.

Em 1997, a Umbro deixava de estampar sua marca na camisa da Seleção. Uma troca que elevaria o status da marca "Seleção Brasileira" em todas as áreas. Não era só a Nike entrando em campo com a camisa amarela. Tinham muitos outros interesses na relação entre a entidade de Ricardo Teixeira e a empresa dirigida por Sandro Rosell, atual presidente do time que encanta o mundo, o Barcelona.

Os selecionáveis estavam cada vez mais ligados ao futebol de fora do Brasil. Com a chegada da gota na camisa, SeleNike era uma alcunha que dominaria as discussões de boteco. Não demorou mais de três anos para que uma Comissão Parlamentar de Inquérito fosse instaurada na Câmara dos Deputados com o intuito de analisar essa relação. A equação dinheiro em excesso + troca de favores tinha como resultado óbvio o enriquecimento ilícito das partes envolvidas. Mais uma vez, nada foi comprovado pela justiça - não era ela que é cega, não é mesmo?

Com Vanderlei Luxemburgo na casamata, tranqulidade era o que não se tinha na CBF. Envolto em situações extraconjugais, Luxa tornava o ambiente futebolístico em prato principal dos fofoqueiros de plantão, transformando atletas em celebridades, artistas globais - com todo duplo sentido que a expressão possa ter. O "pofexô" caiu para Camarões e voltou de carona, já desempregado, com a seleção olímpica. No ponto mais baixo da roda de desempenho, Teixeira se vê forçado pelo clamor popular a fechar o grupo em busca da Copa de 2002. Nada melhor do que um paizão gaudério, daqueles que honram o fio do bigode, para resolver o entrevero.

Luiz Felipe Scolari tinha fama de turrão que ainda tem, mas sabia exatamente do que precisava para vencer no Japão e na Coreia do Sul. Fechou o time, escalou seu goleiro de confiança e deu a bronca para o trio de R's resolver no ataque. Deu tão certo que, ao final, ninguém mais lembrava da comoção popular por Romário no Mundial...

A roda girou muito rapidamente, recolocando o ponto de desempenho lá no topo de novo. E lá esse ponto ficou estagnado por algum tempo, gostando do fato de ver os outros de cima, com visão amplificada. Nunca o domínio do futebol brasileiro foi tão grande quanto entre 2002 e 2006. Ronaldo e Roberto Carlos viviam sua época galática, Ronaldinho era melhor que Pelé. Kaká era o maestro do esquadrão milanista campeão europeu, Adriano estava no auge na Internazionale. Afinal, quem mais derrotaria o maior rival por 4x1 na final da Copa das Confederações, evento teste pra Copa do Mundo? Não tinha como impedir o hexa!

Foto: Fernando Llano-AP.
Eis que tinha uma Weggis no caminho... Um técnico em claro final de carreira... Quatro estrelas arrebentadas pelo excesso de jogos e a falta de férias, aspectos aliados a comportamentos profissionais, digamos, não 100% adequados ao status de "ídolos nacionais" que eles ostentavam. A dignidade do futebol brasileiro ruiu em 30 dias. De espetáculo orquestrado pelo quarteto mágico a time comum da esquina de casa em um mês. A queda foi grande demais para que nada fosse feito...

Para resgatar o orgulho ferido e levantar a moral do ponto de desempenho, um exímio patriota - Dunga. Currículo como treinador: nenhum. Experiência em momento de turbulência: toda. Carlos Caetano Bledorn Verri blindou o time, abraçou-se nas suas ideias e em jogadores que defendiam sua filosofia, tirou o grupo da alça de mira, do foco das ações. Em campo, se fosse sobrar pra alguém, seria com ele a bronca.

A "segurança" dos gramados permitiu planejar vôos mais distantes. "Quem sabe o Brasil possa sediar uma Copa do Mundo?", ousou bradar alguma mente brilhante. Não foi bem assim, afinal o rodízio imposto pela FIFA para as sedes do Mundial calhava de obrigar um país da América do Sul a receber as 32 mais importantes seleções de futebol do mundo. Como a crise assolava a Argentina na metade dos anos 2000, ninguém seria páreo para o Brasil. Ou seja, jogo de cartas marcadas, não conquista heróica de algo improvável. Afinal, quem precisa de saúde, educação e trabalho digno se teremos 64 jogos no país para nos divertirmos? Viva o pão e circo!

O projeto Copa do Mundo afastou o ponto da roda. O desempenho em campo importa, hoje, pouca coisa para os brasileiros. Mesmo com a "Era Dunga 2 - o Salvador da Honra Perdida", o respeito e o prestígio da seleção brasileira com o público foram por água abaixo. Dunga já deixou o cargo. Muricy Ramalho esnobou o comando. Mano Menezes topou fazer papel de marionete à frente de algo que pensa que é gigante, mas no fundo sofre com um vasto campo vazio e improdutivo.

E, junto a isso, o corpo deu sinais de cansaço. Ricardo Teixeira deixou a CBF porque perdeu pra ele mesmo, já que os outros preferiram se unir a ele ao invés de combatê-lo. Mas não tenhamos receio: estamos em boas mãos! Mãos rápidas, de tato apurado, capazes inclusive de tirar o prêmio máximo de um garoto-herói, que suou em campo para buscar uma recompensa. Recompensa que lhe foi tirada na mão grande em cima do palco da glória.

Será que os outros farão igual? Vem outro reinado longínquo por aí? Ou se cria um novo movimento de Diretas Já ou teremos repostas apenas em 2015. Depois que o pão e o circo já tiverem terminado...

Alguém precisa fazer o ponto voltar para a roda de desempenho.

Um comentário:

  1. Com um texto deste, tao rico em informaçoes, tantas Maracutaias, só posso parabenizar o autor, pela coragem de trazer a publico o que esta nas entrelinhas da saída do ditador futeblistico do Brasil...fora a cartilolagem que só querem perpetuar no poder atras de dinheiro facil..a hora e agora....salve o futebol brasileiro...fora bandidagem ...que os clubes se movam agora..já.....osmaneMG/Vitoria/ÉS.

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