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Ricardo Terra Teixeira. Um balanço dos anos de ferro


Chegou ao fim um verdadeiro império. Decadência moral de sua sociedade ou classe dirigente geralmente é um dos fatores em comum entre as quedas. E não poderia ser diferente com o império que foi instaurado na CBF por  mais de duas décadas.


Luiz Guilherme de Almeida e Suzana Moura
Belo Horizonte - MG e Niterói - RJ

Foto: Wikipédia.org
Ricardo Teixeira deixa o trono e ao sair afirma que o balanço de sua gestão foi positivo, afinal, segundo o próprio, o Brasil evoluiu, conquistou dois mundiais e outros inúmeros troféus.



Mas será mesmo que o balanço final é positivo? Será que todas as conquistas da seleção dentro do campo não ficaram manchadas, de alguma foram, por terem passado pelas mesmas mãos que são acusadas de inúmeras polêmicas, escândalos, CPIs, denúncias de corrupção, nepotismo, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, troca de favores políticos e principalmente, de enriquecimento ilícito através do circo que virou a itinerante e desarrumada seleção brasileira? 

No final, o que fica é a imagem de  uma administração corrosiva, maligna, que causou muito mais problemas do que os solucionou. Aqui faremos um balanço, uma linha do tempo final do que foi esse período obscuro. Mas o verdadeiro balanço da adminstração a ser feito, eu proponho à sua própria reflexão, caro amigo leitor. Foram 23 anos de Ricardo Teixeira à frente do nosso futebol.


1989

·  Chegou ao comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 1989, sucedendo Octávio Pinto Guimarães. Encontrou a entidade quase sem condições de arcar com os custos da preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 1990, na Itália.



1990

  • Eliminação nas oitavas de final da Copa na Itália, para a Argentina. Primeiro grande fracasso dentro do campo.
  • Dá-se início ao jogo político da CBF que se consolidaria ao longo dos anos. Teixeira rompe com o então Ministro dos Esportes, Zico e o Diretor Executivo da CBF, Eurico Miranda, usando verdadeiro golpe.



1994

·   Após preparação desorganizada e sofrido desempenho nas eliminatórias, o Brasil classifica-se para a Copa do Mundo nos EUA e sagra-se tetra campeão mundial. Eram 24 anos de jejum.

·   No episódio conhecido como “Vôo da Muamba”, Teixeira juntamente com toda a delegação brasileira desembarca no Brasil declarando de forma incorreta os gastos feitos nos EUA. Teixeira comanda ação que exigia a liberação, por parte do governo, de tal privilégio para a entidade. Estima-se que as 17 toneladas de bagagem extra deveriam render ao governo vários milhões. Somente R$50 mil entraram nos cofres públicos.


1996

  • Brasil é bronze nas Olimpíadas de Atlanta.

 1997

  • Brasil é campeão da Copa América

  • Entra em jogo a parceria CBF-Nike.

1998

·         Esteve envolvido também em campanhas políticas de dirigentes esportivos, com o intuito de manter no Congresso Nacional uma bancada de deputados e senadores para defender seus interesses, que ficou conhecida como bancada de bola. Com a montagem deste esquema de poder, assegurou suas quatro reeleições.

  • Dentro de campo, a seleção perde o título da Copa para a França em uma final cheia de polêmicas e suposições, até hoje não muito bem explicadas.


2000 - 2001

  • Surge a Copa João Havelange. Impossibilitada pela Justiça de organizar o campeonato, a CBF passou a responsabilidade ao Clube dos 13. Mas, como este não pôde aplicar os critérios de acesso e descenso do ano anterior, acabou gerando o maior Campeonato Brasileiro de todos os tempos, reunindo 116 clubes de três divisões em um único torneio, porém dividido em 4 módulos na sua primeira fase.
  • Presta depoimento à CPI do Futebol e da Nike. Até 1996 a entidade dava lucros. Depois de assinar contrato de U$160 milhões com a Nike, passou a dar prejuízo, pegar empréstimos a juros exorbitantes e uma série de irregularidades foram descobertas. Descobriu-se uma série de empresas suas e de comparsas ligadas a transações irregulares de dinheiro. Afirmou em depoimento na CPI que havia ganhado tanto dinheiro investindo em ações, mesmo sabendo-se que havia falido neste ramo no início de sua carreira. Com auxílio de congressistas fiéis, consegue se livrar das acusações.


2002

  • Brasil vence o segundo título mundial da “Era Teixeira”, na Copa da Coréia do Sul e Japão.

 2003

  • É instaurada a fórmula de pontos corridos ao Campeonato Brasileiro.

2006

  • Brasil é eliminado da Copa da Alemanha nas quartas de final.

  • Em Assembléia Geral, Teixeira decide que o mandato do presidente da entidade passaria de quatro para sete anos. Eleito em 2007, Teixeira se garantiria até a Copa do Mundo de 2014.

2007

  • O Brasil é definido pela FIFA como palco da realização da Copa do Mundo de 2014. Não houveram concorrentes.

  • A bancada da bola agiu novamente sob influência de Ricardo Teixeira e de 12 governadores, que previamente foram à Europa a convite de Ricardo Teixeira, por ocasião da escolha do país sede da Copa do Mundo de 2014, para impedir a instalação da CPMI do Corinthians/MSI, com a retirada de votos a favor da CPMI na última hora. O argumento era que a CPI poderia influenciar na escolha da sede. No episódio, 71 parlamentares mudaram de opinião, e apenas 3 se justificaram.
  

2011

  • O jornalista britânico Andrew Jennings acusou Ricardo Teixeira e o ex-presidente da FIFA, João Havelange, de receber propinas para assinaturas de contrato da entidade máxima do futebol com a ISL.

  • Teixeira é também acusado pelo ex-presidente da federação inglesa, David Triesman, de pedir incentivo financeiro à Inglaterra, que era canditada a ser sede da Copa de 2018.

  • O deputado federal Anthoy Garotinho reuniu 117 assinaturas de deputados para abrir nova CPI contra o dirigente, mas precisava de 171. Muitos outros parlamentares ficaram com medo de bater de frente com Teixeira.

  • Em junho de 2011, Teixeira dá uma polêmica e reveladora entrevista à revista Piauí. Nessa, cheio de si, Teixeira abusa do sarcasmo, ironia, zomba de canais de comunicações, rebate as acusações e faz ameaças.

    esportes.r7.com
 2012

  • Denúncia aponta que Sandro Rosell, presidente do Barcelona que recebeu R$9 milhões do governo de Brasília pela Ailanto Marketing, no episódio do amistoso contra Portugal, depositou R$3,8 milhões na conta de Antônia Wigand Teixeira, 9, filha de Ricardo Teixeira.

  • Teixeira pede afastamento médico e indica José Maria Marin como vice-presidente mais velho como seu substituto.

  • Quatro dias depois, o dirigente renuncia.

Durante sua gestão na CBF, as seleções brasileiras, de todos os níveis, conquistaram 11 títulos mundiais e 27 sul-americanos, consolidando a sua hegemonia no cenário mundial.

Ricardo Teixeira sai deixando para trás centenas de pontos nos quais o futebol brasileiro ainda caminha a passos de formiga e que deveriam ter sido sanados a um bom tempo.

 Hoje ele se encontra descansando, sossegado, nos EUA com a família. Já nosso futebol vive momento instável, mas tem a grande chance de ter os clubes atuando de forma mais direta, caso se articulem para tanto. Para Ricardo Teixeira, não deixamos “obrigado” ou “vai com Deus”. E muito menos aquele saudoso “volte sempre”.


José Maria Marin

O mais novo membro da CBF e do Comitê Organizador da Copa atende pelo nome de José Maria Marin. Com a renúncia de Ricardo Teixeira, coube ao seu vice-presidente mais velho assumir o trono da entidade que comanda os rumos do futebol brasileiro. Marin é de certa forma desconhecido para muitos da sociedade, mas é vivido no meio da cartolagem e já desempenhou algumas funções relevantes. Entretanto, mesmo com a mudança no comando da entidade, o próprio Marin já foi enfático: não pretende fazer nenhuma mudança drástica no comando da CBF até 2015, data em que o atual mandato terminaria a princípio. Não haverá mudanças na estrutura, na organização, muito menos existem novas propostas/idéias. No ar, fica a certeza. Tem mesmo o feudo, um novo suserano?

 A carreira de Marin é um tanto quanto mesclada. Formado em Direito, tentou a sorte como jogador do São Paulo na década de 50, sendo contratado para atuar na ponta direita. Sem sucesso, dedicou-se à formação acadêmica e partiu para a política. Nesse âmbito, elegeu-se vereador e deputado estadual pelo estado de São Paulo. Já em 1982, ele acaba por assumir o governo do estado em virtude da desincompatibilização de Paulo Maluf. Com o término do seu mandato em 1983, Marin foi perdendo prestígio político, voltando à cena nos anos 2000 em diante. Entretanto, é nesse limbo em que se encontrava que Marin articulou sua entrada no meio esportivo. Em 1982 foi eleito presidente da Federação Paulista de Futebol (1982-1988), além de ter  chefiado a delegação brasileira na Copa de 1986, no México. Para a CBF, entrou como vice-presidente pela região sudeste – ajudado por Marco Pólo del Nero -  e agora, com a saída de Teixeira, passa a comandar a entidade.

No último dia 25 de janeiro, Marin protagonizou um episódio vexatório. Durante a premiação após o jogo final da Copa São Paulo de Futebol Junior, vencida pelo Corinthians, no Pacaembú, o ex-governador  "disfarçadamente" embolsou uma das medalhas que seria entregue ao jogador Mateus do Corinthians. O ato foi flagrado e exibido ao vivo em rede nacional pelas câmeras da Rede Bandeirantes de Televisão. O episódio causou revolta e foi muito comentado nas redes sociais, o que lhe cunhou o apelido de “Zé das Medalhas”. Na cerimônia de posse, bastante irritado,  o dirigente explicou que tudo não passou de um mal entendido, já que a medalha havia sido uma cortesia do presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Pólo Del Nero, para que ele pudesse usar de modelo na elaboração de uma premiação semelhante, produzida pela CBF.

Existem dois lados dessa nova empreitada de Marin. É óbvio que o futebol brasileiro clama por uma mudança drástica na sua organização, começando principalmente por quem a deve fazer. Com tantos anos sendo comandada pelo mesmo homem, o desgaste político-esportivo é visível, prejudicial. Poderiamos citar inúmeros tópicos de melhora,– adequação de calendário, datas FIFA, estaduais fraquíssimos, etc - ou ao menos propostas . Mas parece que isso não está na pauta do novo presidente.

Defendendo o seu lado, ele reafirma aos quatro cantos que irá dar continuidade à “estupenda e moderna” adminstração feita por Teixeira, além de contar com os mesmos diretores do antigo comandante, pois esses “possuem a experiência necessária para manter a CBF na trilha do sucesso e da boa adminstração”. Nessa toada, concluimos que Marin sabe muito bem onde está.


    zerohora.clicrbs.com.br


Do outro lado do campo, o novo presidente já vê sua primeira disputa, essa sem tantas possibilidades de medalhas a se conquistar. A situação política na qual Teixeira organizou sua renúncia e colocou Marin no comando atenuou o forte racha que existe na CBF hoje. Um grupo formado por presidentes de federações -  entre eles os descontentes Francisco Noveletto Neto, do Rio Grande do Sul, Ednaldo Rodrigues, da Bahia, Rubens Lopes, do Rio, e Paulo Schettino, de Minas Gerais – vem ganhando adeptos . Os chamados “rebeldes” defendem a convocação de nova eleição. Antes da assembléia geral extraordinária convocada por Ricardo Teixeira, em que o mandatário comunicou a todos os presidentes de federações que continuaria no cargo, o grupo era composto por sete dirigentes. Imediatamente após a renúncia, o número de integrantes caiu para seis, mas, nas últimas semanas, entre seis e oito cartolas de outras federações começaram a dar sinais de aprovação a um novo pleito. Visando minimizar a situação, Marin afirma que é perfeitamente democrático que entre as 27 federações  haja discordância, mas ele sabe que tal cisma pode ganhar cada vez mais força. As federações nunca se organizaram de fato durante a Era Teixeira buscando certos ares de democracia. Lidar com grupos insatisfeitos requer destreza e acima de tudo força política. E é aí que está o primeiro grande desafio de Marin. Ele sabe que conta com a Federação Paulista, mas pode precisar conquistar outras agora, massagear egos para ter apoio. Não que isso seja algo improvável para um presidente de CBF – já vimos que de fato não é – mas o momento agora é  mais turbulento. Sua carta na manga é afirmar continuidade da administração, baixar a poeira que a CBF tem levantado e ao mesmo tempo, nos bastidores, trabalhar essa questão como fundamental.

O que fica ao final desse primeiro ato é a sensação de que nada nudou, que continuamos sem rumo certo na gestão do nosso futebol, além de tentarem nos fazer acreditar na velha carochinha. Dizer que a administração passada fez excelente trabalho e que só contribuiu ao futebol brasileiro é de uma empáfia sem tamanho. Simplesmente não vimos inúmeros escândalos, bobagens e até mesmo crimes sendo cometidos? Estávamos então todos imaginando toda essa mancha do nosso futebol?

Esperei certo tempo para escrever uma primeira coluna sobre um quiçá novo presidente da CBF, que daria início à quimioterapia para acabarmos de vez com o câncer e suas metástases que minaram o nosso futebol por tanto tempo. Mas ao que parece, o tratamento será feito a base de placebos. É como se o feudo realmente não tivesse sido passado para outro suserano.



2 comentários:

  1. Infelizmente não temos nenhuma perspectiva de melhora pro nosso futebol a curto prazo.

    Mas pelo menos se foi um sanguessuga.

    Excelente texto!

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  2. É o momento da Liga de clubes...
    Deve-se aproveitar o bom momento economico para consolidar uma Liga forte na America do Sul.
    Os 20 Clubes da Primeira Divisão deveriam fundar a Liga e adequar o calendário.

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