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Entrevista: Luciano Burti

Ex-piloto de Fórmula 1, atualmente na Stock Car e comentarista da Rede Globo fala sobre a carreira e automobilismo.

Lívio Galdeano
São Caetano do Sul/SP

Luciano Burti, piloto e comentarista



Prestes a completar 37 anos, Luciano Burti tem duas carreiras de sucesso: piloto e comentarista de automobilismo.

Como piloto são mais de 20 anos de carreira desde o início no Kart, tendo alcançado a principal categoria do automobilismo em 2000, quando estreou pela equipe Jaguar na Áustria em substituição a Eddie Irvine. No ano seguinte foi piloto da Jaguar por quatro corridas e nove pela equipe Prost, quando sofreu um acidente em Spa (Bélgica) que, de certa forma, contribuiu para encerrar sua carreira como piloto principal na Fórmula 1. Entre 2002 e 2004 foi piloto de testes da Ferrari e desde 2005 está na Stock Car. 

Paralelamente ao automobilismo, é comentarista de Fórmula 1 da Rede Globo desde 2005, tendo se destacado pelo vasto conhecimento técnico da categoria.
Confira abaixo a entrevista dada pelo piloto ao Leitura Esportiva:

(Cleyton Santos) Burti, no auge de sua carreira, você correu na F1 junto com Rubens Barrichello, e tendo relativo destaque, justamente na época em que ele também estava em evidência na Stewart, e posteriormente na Ferrari. Conhecendo Barrichello, o que você acha da ida dele para a IRL? Você achava que já estava na hora dele buscar novos ares?

Luciano Burti: Pessoalmente eu acredito que fará muito bem ao Rubinho uma vez que ele terá a chance de brigar por vitórias nessa categoria. E obviamente o seu desejo era completar a sua 20ª temporada de F-1, mas seria novamente uma frustração disputar essa temporada com um carro sem chances de vitória.

(Pablo Melo e Leonardo Martins) Luciano Burti, qual sua opinião sobre o Felipe Nasr, que está hoje na categoria GP2? Será que pode vir a se tornar futuro campeão Mundial?

LB: Vejo com muito bons olhos o Felipe Nasr. Ele tem uma boa formação e já conta com profissionais experientes cuidando de sua carreira. E o Brasil sempre teve tradição de bons pilotos na F-1, então espero que ele, Razia, Foresti e outros consigam alcançar seus objetivos. Mas para ele, que está estreando GP2, isso ainda é assunto para daqui dois anos.

(Pablo Melo) O Bruno Senna está no caminho ideal fechando com a Willians? Sobre o Nelsinho Piquet, será que ele tem chance ainda de voltar a F1 depois do acontecido com a Renault?

LB: A Williams tem um carro bem superior ao de 2011, mas mesmo assim ainda é um equipamento para brigar, em condições normais, apenas com as equipes médias. Mas o Bruno é inteligente e já mostrou potencial. Sobre Nelsinho, ele mesmo já escolheu outro caminho.

(Cleyton Santos) Qual a sua opinião sobre: VICAR; Stock Car e CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo)?

LB: A Vicar tem feito um bom trabalho na promoção da Stock Car e no ano passado nós cobramos muito da participação da CBA em alguns detalhes, via Comissão de Pilotos. As coisas começaram a melhorar, mas é preciso um esforço contínuo.

(Luca Gomes) Burti, você competiu e viveu a atmosfera da F-1 com o Michael Schumacher. Na sua avaliação, o Vettel pode chegar ao mesmo patamar do recordista de títulos do esporte?

LB: A maior parte dos recordes, o Schumacher quebrou na melhor fase da história da Ferrari, entre 2000 e 2005. Então, independentemente do talento do piloto, o mais importante para que alguém consiga atingir essas marcas é ter um carro extremamente competitivo em mãos por muito tempo e isso não é fácil. Atualmente, o carro da RBR é muito superior aos demais, mas uma hora a moleza acaba. Então este é o desafio do Vettel.

(Matheus Rocha) Das pistas que você correu tanto na F-1 quanto na Stock, qual a mais difícil de cada categoria e por que?

LB: Na Stock Car, dá para falar de Londrina, que é uma pista com características bem distintas, é difícil equilibrar o carro para todos os trechos. Na Fórmula 1, uma das mais técnicas é Spa-Francorchamps. É um circuito com muitas retas e, portanto, os carros são ajustados com pouca asa. Isso dificulta a aderência em curvas de alta velocidade. No final da curva você se sente em uma montanha-russa, o carro parece que vai decolar. E tem a Eau Rouge. Na minha opinião, nenhuma curva exige tanto do físico do piloto quanto essa.

(Vinicius Brino e Wilson Hebert) A ausência de um grande ídolo como Ayrton Senna tem feito com que o interesse do brasileiro pelo automobilismo seja menor?

LB: A presença de um grande ídolo sempre alavanca o esporte, como aconteceu com o tênis, com a natação... Então com certeza ajuda. Mas o público da Fórmula 1 é bastante fiel, é uma relação diferente dos outros esportes.

(Vinicius Brino) Felipe Massa já foi de aspirante a ídolo a decepção. Até onde o brasileiro pode chegar?

LB: Perguntam se foi o acidente, mas acho que não. Quando ele voltou, a equipe não era mais aquela com o (Kimi) Raikkonen, onde ele era o preferido. O Alonso acabou conquistando o time e o Felipe não tinha mais o mesmo espaço. Aquele episódio da Alemanha abalou muito a autoconfiança dele. Percebeu que as coisas não eram como antes. Isso mexeu demais com o psicológico do Felipe. Em termos de talento, ele ainda é o mesmo, apenas com a autoconfiança abalada. Acho que tudo depende de como ele vai trabalhar isso daqui em diante.

(Daniel Junior) Se é tão difícil acharmos um piloto à altura de Ayrton Senna (em carisma, talento, ousadia, velocidade), estamos tão distantes de termos ao "menos" um novo campeão mundial?

LB: Depende fundamentalmente dos nomes que estão chegando e também do que será feito pelas categorias de base do nosso automobilismo. Se nada for feito, se a nossa base não ganhar força, com certeza ficará mais difícil revelar bons nomes para a Fórmula 1.

(Lívio Galdeano) Para atender o regulamento deste ano, várias equipes adotaram o degrau no bico. Das grandes apenas a McLaren não optou pela novidade, você acha que a equipe pode ter cometido um erro em não seguir a tendência?

LB: Fica difícil avaliar pelos testes de pré-temporada, mas até agora a McLaren tem aparecido entre as equipes mais confiantes e satisfeitas com os resultados, mesmo sem adotar o novo bico. Não vejo nenhuma preocupação, não.

(Lívio Galdeano) No período em que você foi piloto de testes da Ferrari, o que mais lhe chamou a atenção do trabalho de Schumacher?

LB: O grande ponto forte de Schumacher é o talento natural. Isso ficou evidente para todos na F-1. Ele era imbatível nas curvas de alta velocidade, era o único piloto que fazia certas curvas “cravado”, enquanto todos os outros tiravam o pé do acelerador, andava no limite já nas primeiras voltas de um treino de sexta-feira (mesmo com pista suja, em traçados desconhecidos de novos autódromos etc.) e possuía um controle do carro de fazer inveja.

(Lívio Galdeano) Quais os motivos que levaram você a não conseguir se manter na Fórmula 1?

LB: Hoje, em retrospectiva, eu entraria na F-1 com mais maturidade, cheguei lá muito ingênuo, muito bonzinho. Eu era muito despreparado até no lado pessoal para lidar com a F-1. Não estou dizendo que para você lidar com a F-1 você tenha que ser má pessoa, mas você precisa ser mais duro, ter mais maturidade, ser mais forte, lidar com pressão e ter um certo egoísmo.

(Bruno Cassali) Como foi a transição entre as pistas e a cabine?

LB: Comentar de certa forma é até mais difícil do que pilotar. A primeira vez que andei de kart, fui bem. A primeira corrida que fiz na Europa, ganhei. A primeira vez que andei de F-1, fui bem. Não estou falando que eu sou Ayrton Senna, mas é uma coisa mais natural. A comunicação é uma coisa muito mais difícil do que as pessoas imaginam, na televisão principalmente. Por um tempo, acho que comentar foi mais difícil que pilotar.

"O grande ponto forte de Schumacher é o talento natural. Isso ficou evidente para todos na F-1. Ele era imbatível nas curvas de alta velocidade, era o único piloto que fazia certas curvas 'cravado'..."

(Bruno Cassali) Tu tens algum receio de dividir a transmissão com o maior locutor esportivo que o Brasil já teve?

LB: Para mim, é uma honra, o Galvão narra, desde F-1, futebol, bolinha de gude... Tudo o que ele vai narrar ele narra bem. Minha parte é a parte técnica, que eu sempre falo, de dentro do carro. Nos damos bem por conta disso, um não interfere na parte do outro. Acho até que para a própria Globo isso foi uma referencia boa, uma vez que depois que eu entrei, o esporte olímpico sempre tinha um ex-atleta nos comentários.

(Wilson Hebert) As inúmeras mudanças de regras na Fórmula 1 com o objetivo de tornarem as corridas mais parelhas são vistas por você como positivas ou negativas?

LB: Eu vejo como positivas. As pessoas reclamavam que a Fórmula 1 não tinha mais ultrapassagens e depois começaram a reclamar que havia ultrapassagens demais com a nova asa, que ficou meio artificial. Eu acho que as mudanças são válidas, sim, e acho que as corridas ficaram mais interessantes com as regras de pneus, da asa, etc.

(Leandro Gomes) Como foi trabalhar com as lendas do automobilismo Jackie Stewart e Alain Prost? Conseguiu aprender muito com eles?

LB: Foram duas experiências incríveis. São dois caras que sempre se envolveram muito como chefes de equipe. O Jackie foi o chefe de equipe que me permitiu andar de Fórmula 1 pela primeira vez e o Alain Prost foi quem me ofereceu a chance de dar sequência à minha carreira na Fórmula 1 depois da saída da Jaguar.

(Leandro Gomes) Você disputou a F3 Inglesa em 1999 tendo Jenson Button como um de seus adversários, e inclusive terminou o campeonato na frente dele. Como foi correr contra ele naquela época? Já era possível perceber que ele tinha potencial para ser o grande piloto que é hoje?

LB: Sem dúvida, ele sempre foi muito bom. Tenho uma boa relação com o Button até hoje por causa da época de F-3 Inglesa. Disputamos muito, mas não houve problema, nunca batemos. Foi uma relação competitiva, mas boa. Ele é um cara do bem, torço por ele. Quando ele foi campeão da F-1, fiquei feliz, considero um amigo até hoje.

(Leandro Gomes) Você sentiu alguma diferença em sua pilotagem após o acidente na Bélgica em 2001?

LB: Nenhuma. Fiquei cinco dias em coma e voltei a pilotar na Fórmula 1, com a Ferrari, quatro meses depois da batida. Claro que ainda era cedo e eu precisei de tempo para chegar ao nível que eu queria. Mas os médicos diziam que eu jamais voltaria, então hoje para mim é uma alegria muito grande dizer que nada mudou na minha pilotagem, que entro num carro e guio com a mesma alegria e a mesma performance de antes do acidente.

Burti é piloto da Itaipava Racing na Stock Car.
Fonte: assessoria/Burti

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